Missa do Natal
Todos os confins da terra viram a salvação que vem de Deus...
Mensagem urbi et orbi do papa francisco
O olhar e o coração dos cristãos de todo o...
Decorreu neste Sábado 23 de Dezembro, o Natal do doente no Hospital Geral de Benguela.
A santa missa foi presidida pelo senhor Bispo Dom António Francisco Jaca.
Queridos irmãos e irmãs, bom dia!
Antes de mais nada, quero agradecer ao Cardeal Re as suas palavras… e também a sua energia. Um nonagenário, com esta energia! Em frente, coragem! Obrigado.
O Mistério do Natal desperta o nosso coração para a maravilha – palavra-chave – dum anúncio inesperado: Deus vem, Deus está aqui entre nós e a sua luz rompeu para sempre as trevas do mundo. Sempre precisamos de ouvir e receber este anúncio, sobretudo num tempo ainda marcado tristemente pelas violências da guerra, pelos riscos epocais a que estamos expostos devido às alterações climáticas, pela pobreza, pelo sofrimento, pela fome (há fome no mundo!) e por outras feridas que habitam a nossa história. Consola descobrir mesmo nestes «lugares» de dor, como aliás em todos os espaços da nossa frágil humanidade, que Deus Se torna presente neste berço, na manjedoura que escolhe hoje para nascer e levar a todos o amor do Pai; e fá-lo com o estilo de Deus: proximidade, compaixão, ternura.
Caríssimos, precisamos de escutar o anúncio do Deus que vem, discernir os sinais da sua presença e decidir-nos pela sua Palavra caminhando atrás d’Ele. Escutar, discernir, caminhar: três verbos para o nosso itinerário de fé e para o serviço que realizamos aqui na Cúria. Gostaria de vo-los entregar através de alguns dos principais personagens do Santo Natal.
Em primeiro lugar, Maria, que nos sugere o escutar. A jovem de Nazaré, que estreita nos braços Aquele que veio abraçar o mundo, é a Virgem da escuta porque deu ouvidos ao anúncio do Anjo e abriu o coração ao projeto de Deus. Ela lembra-nos o primeiro grande mandamento que é «escuta, Israel» (Dt 6, 4), pois importante, antes de todo e qualquer preceito, é entrar em relação com Deus, acolhendo o dom do seu amor que vem ao nosso encontro. Com efeito, escutar é um verbo bíblico que não diz respeito apenas ao ouvido, mas requer o envolvimento do coração e consequentemente da própria vida. Assim começa São Bento a sua Regra: «Escuta atentamente, filho, (...) com o ouvido do teu coração» (Regra, Prólogo, 1). Escutar com o coração é muito mais do que ouvir uma mensagem ou trocar informações; trata-se duma escuta interior capaz de intercetar os desejos e as carências do outro, duma relação que nos convida a superar os esquemas e vencer os preconceitos com que às vezes classificamos a vida daqueles que nos rodeiam. Escutar é sempre o início dum caminho. O Senhor pede ao seu povo esta escuta do coração, uma relação com Ele que é o Deus vivo.
Tal é a escuta da Virgem Maria, que recebe o anúncio do Anjo com abertura, abertura total, e por isso mesmo não esconde o turbamento e os interrogativos que aquele suscita n’Ela; mas envolve-se com grande disponibilidade na relação com Deus que A escolheu, acolhendo o seu projeto. Há um diálogo e há uma obediência. Maria compreende que é destinatária dum dom inestimável e, «de joelhos», isto é, com humildade e maravilha, coloca-se à escuta. Escutar «de joelhos» é o melhor modo para escutar de verdade, pois significa que estamos diante do outro, não na posição de quem pensa que sabe tudo, de quem já interpretou as coisas ainda antes de as ouvir, de alguém que olha de cima para baixo, mas ao contrário abrindo-nos ao mistério do outro, prontos a receber humildemente tudo o que ele nos quiser dar. Não esqueçamos que apenas numa ocasião é lícito olhar uma pessoa de cima para baixo: só para a ajudar a levantar-se. É a única ocasião em que é lícito olhar uma pessoa de cima para baixo.
Às vezes, na própria comunicação entre nós, corremos o risco de ser como lobos vorazes: procuramos de imediato devorar as palavras do outro, sem verdadeiramente as escutar, e logo lhe atiramos à cara as nossas impressões e os nossos juízos. A verdade é que, para se escutar, há necessidade não só de silêncio interior, mas também dum espaço de silêncio entre a escuta e a resposta. Não é um jogo de ping-pong. Primeiro ouve-se, em seguida no silêncio acolhe-se, reflete-se, interpreta-se, e só depois podemos dar uma resposta. Tudo isto se aprende na oração, porque esta alarga o coração, faz descer do pedestal o nosso egocentrismo, educa-nos para a escuta do outro e gera em nós o silêncio da contemplação. Aprendemos a contemplação na oração, estando de joelhos diante do Senhor; e não apenas com os pés, mas estar de joelhos com o coração! Também no nosso trabalho de Cúria, «precisamos de O implorar cada dia, pedir a sua graça para que abra o nosso coração frio e sacuda a nossa vida tíbia e superficial. (…) É urgente recuperar um espírito contemplativo, que nos permita redescobrir, cada dia, que somos depositários dum bem que humaniza, que ajuda a levar uma vida melhor. Não há nada de melhor para transmitir aos outros» (Francisco, Exort. ap. Evangelii gaudium, 264).
Irmãos e irmãs, também na Cúria há necessidade de aprender a arte da escuta. Antes dos nossos deveres quotidianos e das nossas atividades, antes das funções que desempenhamos, é preciso descobrir o valor das relações e procurar despojá-las dos formalismos, animá-las de espírito evangélico, começando por nos escutarmos uns aos outros... com o coração e de joelhos. Escutemo-nos mais, sem preconceitos, com abertura e sinceridade; com o coração de joelhos. Escutemo-nos, procurando compreender bem o que diz o irmão, captar as suas necessidades e de algum modo a sua própria vida, que se esconde por detrás daquelas palavras, sem julgar. Como aconselha sabiamente Santo Inácio, «deve-se pressupor que um bom cristão há de ser mais propenso a defender do que a condenar a afirmação do outro. E se não a pode defender, procure esclarecer o sentido em que o outro a entende; se a entende de forma errónea, corrija-o com benevolência; se isto não bastar, use todos os meios oportunos para que a entenda corretamente e, assim, possa salvar-se» (Exercícios Espirituais, 22). Requer-se todo este trabalho para se compreender bem o outro. Repito: escutar é diferente de ouvir. Quando caminhamos pelas ruas das nossas cidades, podemos ouvir muitas vozes e ruídos, mas geralmente não os escutamos nem interiorizamos, pelo que não permanecem dentro de nós. Uma coisa é pura e simplesmente ouvir, outra é pôr-se à escuta, o que significa também «acolher intimamente».
A escuta mútua ajuda-nos a viver o discernimento como método do nosso agir. Aqui podemos fazer referimento a João Batista. Primeiro, Nossa Senhora que escuta, agora João que discerne. Conhecemos a grandeza deste profeta, a austeridade e a veemência da sua pregação. Contudo, quando Jesus chega e inicia o seu ministério, João passa por uma dramática crise de fé; tinha anunciado a vinda iminente do Senhor como a dum Deus poderoso, que haveria finalmente de julgar os pecadores, lançando ao fogo toda a árvore que não desse fruto e queimando a palha num fogo inextinguível (cf. Mt 3, 10-12). Mas uma tal imagem do Messias esboroou-se à vista dos gestos, palavras e estilo de Jesus, perante a compaixão e a misericórdia que Ele demonstra para com todos. Então o Batista sente que deve fazer discernimento para receber olhos novos. De facto, diz o Evangelho: «João, que estava no cárcere, tendo ouvido falar das obras de Cristo, enviou-Lhe os seus discípulos com esta pergunta: “És Tu Aquele que há de vir, ou devemos esperar outro?”» (Mt 11, 2-3). Em suma, Jesus não era como ele O esperava e por isso o próprio Precursor deve converter-se à novidade do Reino, deve ter a humildade e a coragem de fazer discernimento.
De igual modo é importante, para todos nós, o discernimento, esta arte da vida espiritual que nos despoja da pretensão de já saber tudo, do risco de pensar que basta aplicar as regras, da tentação de proceder, na própria vida da Cúria, repetindo simplesmente esquemas, sem considerar que o Mistério de Deus sempre nos supera e que a vida das pessoas e a realidade que nos rodeia são e sempre permanecerão superiores às ideias e teorias. A vida sempre é superior às ideias. Precisamos de praticar o discernimento espiritual, perscrutar a vontade de Deus, questionar as moções interiores do nosso coração para, depois, avaliar as decisões a tomar e as escolhas a fazer. Escrevia o Cardeal Martini: «O discernimento é muito diferente da análise meticulosa de quem vive em sujeição legalista ou com a pretensão do perfeccionismo. É um impulso de amor que estabelece a distinção entre o bom e o melhor, entre o útil em si mesmo e o útil agora, entre o que em geral pode estar bem e o que precisa de ser promovido agora». E acrescentava: «A falta de tensão para discernir o melhor torna muitas vezes a vida pastoral monótona, repetitiva: multiplicam-se atividades religiosos, repetem-se gestos tradicionais sem ver bem o seu significado» (O Evangelho de Maria, Milão 2008, 21). O discernimento deve ajudar-nos, também no trabalho da Cúria, a ser dóceis ao Espírito Santo, para poder escolher as orientações e tomar as decisões, não com base em critérios mundanos nem simplesmente aplicando regulamentos, mas segundo o Evangelho.
Escutar: Maria. Discernir: o Batista. E agora a terceira palavra: caminhar. E naturalmente vêm ao pensamento os Magos, que nos lembram a importância de caminhar. A alegria do Evangelho, quando a acolhemos de verdade, desencadeia em nós o impulso do seguimento, provocando um verdadeiro êxodo de nós mesmos e encaminhando-nos para o encontro com o Senhor e para a plenitude da vida. O êxodo de nós mesmos: uma atitude da nossa vida espiritual que sempre devemos examinar. A fé cristã – recordemo-lo – não pretende confirmar as nossas seguranças, fazer-nos acomodar em fáceis certezas religiosas, nem fornecer-nos respostas rápidas para os complexos problemas da vida. Pelo contrário, quando Deus chama, sempre inspira um caminho, como sucedeu com Abraão, Moisés, os profetas e todos os discípulos do Senhor. Coloca-nos em viagem, tira-nos para fora das nossas áreas de segurança, põe em discussão as nossas aquisições e é precisamente assim que nos liberta, nos transforma, ilumina os olhos do nosso coração para nos fazer compreender a esperança a que Ele nos chamou (cf. Ef 1, 18). Como afirma Michel de Certeau, «místico é aquele ou aquela que não se pode deter no caminho. (…) O desejo cria um excesso. Excede, passa e abandona o lugar. Faz ir mais longe, para outro lugar» (Fabula Mística. Século XVI-XVII, Milão 2008, 353).
Também aqui, no serviço da Cúria é importante permanecer a caminho, não cessar de procurar e aprofundar a verdade, vencendo a tentação de ficar parado e «labirintar» dentro dos nossos recintos e dos nossos medos. Os medos, a rigidez, a repetição dos esquemas geram uma situação estática, que tem a vantagem aparente de não criar problemas – quieta non movere –, mas levam-nos a girar sem resultado nos nossos labirintos, penalizando o serviço que somos chamados a oferecer à Igreja e ao mundo inteiro. Permaneçamos vigilantes contra a fixidez da ideologia, que muitas vezes, sob a aparência das boas intenções, nos separa da realidade e impede de caminhar. Ao contrário, somos chamados pôr-nos em viagem e caminhar, como fizeram os Magos, seguindo a Luz que sempre nos quer levar mais longe e, por vezes, faz-nos procurar sendas inexploradas e percorrer caminhos novos. E não esqueçamos que a viagem dos Magos – como aliás todo o caminho que a Bíblia nos narra – começa sempre «do alto», por uma chamada do Senhor, por um sinal que vem do Céu ou porque o próprio Deus Se faz guia que ilumina os passos de seus filhos. Por isso, quando o serviço que realizamos corre o risco de se entibiar, de «labirintar» na rigidez ou na mediocridade, quando nos encontramos emperrados nas redes da burocracia e da insignificância, lembremo-nos de olhar para o alto, recomeçar a partir de Deus, deixar-nos iluminar pela sua Palavra, a fim de encontrarmos sempre a coragem para partir de novo. E não esqueçamos que dos labirintos, sai-se apenas «por cima»
É preciso coragem para caminhar, para ir mais longe. É uma questão de amor. E é preciso coragem para amar. Gosto de recordar a reflexão dum zeloso sacerdote a propósito disto, mas que pode ajudar-nos também no nosso trabalho de Cúria. Diz ele que custa reanimar as brasas sob a cinza da Igreja. Hoje a dificuldade é transmitir paixão a quem já há muito tempo a perdeu. À distância de sessenta anos do Concílio, ainda se debate sobre a divisão entre «progressistas» e «conservadores», mas esta não é a diferença: a verdadeira diferença é entre «apaixonados» e «rotineiros». Esta é a diferença. Só quem ama, pode caminhar.
Irmãos, irmãs, obrigado pelo vosso trabalho e a vossa dedicação. No nosso trabalho, cultivemos a escuta do coração, colocando-nos assim ao serviço do Senhor, aprendendo a acolher-nos, a ouvir-nos entre nós; exercitemo-nos no discernimento, para sermos uma Igreja que procura interpretar os sinais da história à luz do Evangelho, procurando soluções que transmitam o amor do Pai; e permaneçamos sempre a caminho, com humildade e maravilha, para não cairmos na presunção de sentir que chegamos à meta a fim de não se apagar em nós o desejo de Deus. Muito obrigado sobretudo pelo vosso trabalho realizado no silêncio. Não nos esqueçamos: escutar, discernir, caminhar. Maria, o Batista e os Magos.
Que o Senhor Jesus, Verbo Encarnado, nos dê a graça da alegria no serviço humilde e generoso. E, por favor (vo-lo recomendo!), não percamos o humorismo, que é saúde!
Votos dum Santo Natal para vós e também para os vossos entes queridos! E, diante do presépio, fazei uma oração por mim. Muito obrigado!
O Papa assinalou neste Domingo 3 de Dezembro, no Vaticano, o início do tempo do Advento, os quatro domingos do calendário católico que servem como preparação para o Natal, desafiando a oferecer tempo e atenção, “especialmente aos mais necessitados”.
“Eis um belo programa para o Advento: encontrar Jesus que vem em cada irmão e irmã que precisa de nós e partilhar com eles o que pudermos: escuta, tempo, ajuda concreta”, referiu, numa intervenção lida antes da recitação do ângelus.
À imagem do que aconteceu no dia 26 de Novembro, Francisco presidiu à oração dominical desde a Casa de Santa Marta, onde reside, “para não se expor a mudanças bruscas de temperatura”, explicou o Vaticano. “Hoje também não vou poder ler tudo, estou a melhorar, mas a voz ainda não consegue”, disse o Papa, sentado ao lado de monsenhor Paolo Luca Braida, de Secretaria de Estado do Vaticano. A reflexão centrou-se na virtude da “vigilância”, que distinguiu do “medo de um castigo iminente”. “De modo especial durante estas semanas, preparemos cuidadosamente a casa do coração, para que ela esteja organizada e acolhedora. A vigilância, de facto, significa manter o coração preparado”, indicou o Papa.
Cultivemos a sua espera sem nos distrairmos com tantas coisas inúteis e sem reclamar o tempo todo, mas mantendo o nosso coração alerta, ou seja, ansioso por Ele, desperto e pronto, impaciente para encontrá-lo”. A oração do ângelus teve transmissão em directo, na Praça de São Pedro e nos canais digitais da Santa Sé. “Desejo a todos um bom domingo e um bom caminho de Advento. Por favor, não se esqueçam de rezar por mim. Bom almoço e até breve”, disse Francisco, que retomou a palavra para se despedir de quem o acompanhava. A intervenção foi recebida, na Praça de São Pedro, com palmas e gritos de “viva o Papa”. O Vaticano informou este sábado que Francisco está a registar melhorias no seu estado de saúde, após uma semana marcada por limitações, devido a problemas pulmonares, mantendo-se sem febre.
Catequeses. A paixão pela evangelização: o zelo apostólico do crente. 29. O anuncio está no Espírito Santo
Prezados irmãos e irmãs!
Nas catequeses passadas vimos que o anúncio do Evangelho é alegria, é para todos e deve visar o hoje. Agora descubramos uma última caraterística essencial: é preciso que o anúncio seja feito no Espírito Santo. Com efeito, para “comunicar Deus” não são suficientes a jubilosa credibilidade do testemunho, a universalidade do anúncio e a atualidade da mensagem. Sem o Espírito Santo, todo o zelo é vão e falsamente apostólico: seria apenas nosso, não daria fruto.
Na Evangelii gaudium recordei que «Jesus é o primeiro e o maior evangelizador»; que «em qualquer forma de evangelização o primado é sempre de Deus», que «quis chamar-nos a colaborar com Ele e estimular-nos com a força do seu Espírito» (n. 12). Eis o primado do Espírito Santo! Por isso, o Senhor compara o dinamismo do Reino de Deus com «um homem que lança a semente na terra; quer durma quer esteja acordado, de noite ou de dia, a semente germina e cresce; como, ele próprio não sabe» (Mc 4, 26-27). O Espírito é o protagonista, precede sempre os missionários e faz germinar o fruto. Esta consciência consola-nos muito! E ajuda-nos a determinar outra, igualmente decisiva: ou seja, que no seu zelo apostólico a Igreja não anuncia a si mesma, mas uma graça, um dom, e o Espírito Santo é precisamente o Dom de Deus, como disse Jesus à samaritana (cf. Jo 4, 10).
No entanto, o primado do Espírito não deve induzir-nos à indolência. A confiança não justifica o desinteresse. A vitalidade da semente que cresce por si só não autoriza os agricultores a descuidar o campo. Ao dar as últimas recomendações, antes de subir ao céu, Jesus disse: «Recebereis a força do Espírito Santo, que descerá sobre vós e sereis minhas testemunhas [...] até aos confins da terra» (At 1, 8). O Senhor não nos deixou dispensas de teologia, nem um manual de pastoral a aplicar, mas o Espírito Santo, que suscita a missão. E o empreendimento corajoso que o Espírito infunde leva-nos a imitar o seu estilo, que tem sempre duas caraterísticas: criatividade e simplicidade.
Criatividade, para anunciar Jesus com alegria, a todos e hoje. Nesta nossa época, que não ajuda a ter um olhar religioso sobre a vida, e na qual em vários lugares o anúncio se tornou mais difícil, cansativo e aparentemente infrutífero, pode surgir a tentação de desistir do serviço pastoral. Talvez nos refugiemos em zonas de segurança, como a repetição habitual de coisas que sempre fazemos, ou nos apelos aliciadores de uma espiritualidade intimista, ou ainda num sentido mal compreendido da centralidade da liturgia. São tentações que se disfarçam de fidelidade à tradição, mas muitas vezes, mais do que respostas ao Espírito, são reações às insatisfações pessoais. Pelo contrário, a criatividade pastoral, a audácia no Espírito, o ardor do seu fogo missionário, é prova de fidelidade a Ele. Por isso, escrevi que «Jesus Cristo pode também romper os esquemas tediosos em que pretendemos aprisioná-lo e surpreende-nos com a sua constante criatividade divina. Sempre que procuramos voltar à fonte e recuperar o frescor original do Evangelho, surgem novos caminhos, métodos criativos, outras formas de expressão, sinais mais eloquentes, palavras repletas de renovado significado para o mundo atual»
Portanto, criatividade; e depois simplicidade, precisamente porque o Espírito nos leva à fonte, ao “primeiro anúncio”. Com efeito, é «o fogo do Espírito que [...] nos faz acreditar em Jesus Cristo que, com a sua morte e ressurreição, nos revela e comunica a misericórdia infinita do Pai» (ibid., 164). Este é o primeiro anúncio, que «deve ocupar o centro da atividade evangelizadora e de todas as intenções de renovação eclesial»; para repetir: «Jesus Cristo ama-te, deu a sua vida para te salvar e agora está vivo ao teu lado todos os dias, para te iluminar, fortalecer e libertar»
Irmãos e irmãs, deixemo-nos conquistar pelo Espírito, invocando-o todos os dias: que Ele seja o princípio do nosso ser e do nosso agir; que Ele esteja no início de cada atividade, encontro, reunião e anúncio. Ele vivifica e rejuvenesce a Igreja: com Ele não devemos ter medo, porque Ele, que é harmonia, mantém sempre unidas a criatividade e a simplicidade, suscita a comunhão e envia em missão, abre à diversidade e reconduz à unidade. Ele é a nossa força, o sopro do nosso anúncio, a nascente do zelo apostólico. Vinde, Espírito Santo!
Saudações:
Saúdo cordialmente os fiéis de língua portuguesa. Guiados pela ação do Espírito em nossa vida, empenhemo-nos com criatividade e simplicidade na missão que o Senhor nos confiou: anunciar com alegria a todos a Sua misericórdia infinita. Deus vos abençoe!
Senhor Presidente,
Senhor Secretário-Geral das Nações Unidas,
Ilustres Chefes de Estado e de Governo,
Senhoras e Senhores!
Infelizmente não posso acompanhar-vos, como desejaria, mas estou convosco, pela urgência da hora que vivemos. Estou convosco, porque, agora mais do que nunca, o futuro de todos depende do presente que escolhermos. Estou convosco, porque a devastação da criação é uma ofensa a Deus, um pecado não só pessoal mas também estrutural que recai sobre os seres humanos, sobretudo os mais débeis, um grave perigo que grava sobre cada um com o risco de desencadear um conflito entre as gerações. Estou convosco, porque a mudança climática é «um problema social global que está intimamente ligado à dignidade da vida humana» (Francisco, Exort. ap. Laudate Deum, 3). Estou convosco para formular uma pergunta a que somos chamados a responder agora: estamos a trabalhar para uma cultura da vida ou da morte? Com veemência, vos peço: escolhamos a vida, escolhamos o futuro! Escutemos os gemidos da terra, demos ouvidos ao grito dos pobres, prestemos atenção às esperanças dos jovens e aos sonhos das crianças! Temos uma grande responsabilidade: garantir que não lhes seja negado o próprio futuro.
Está comprovado que as alterações climáticas em curso derivam do sobreaquecimento da terra, causado principalmente pelo aumento na atmosfera dos gases com efeito de estufa, causado por sua vez pela atividade humana, que, nas últimas décadas, se tornou insustentável para o ecossistema. A ambição de produzir e possuir transformou-se em obsessão e resultou numa ganância sem limites, que fez do ambiente o objeto duma exploração desenfreada. O clima enlouquecido soa como um alerta para acabarmos com tal delírio de omnipotência. Com humildade e coragem, voltemos a reconhecer a nossa limitação como única estrada para uma vida plena.
Qual obstáculo impede este percurso? As divisões que existem entre nós. Mas um mundo inteiramente conexo, como o atual, não pode ser tratado por quem o governa como se fosse desconexo, com as negociações internacionais que «não podem avançar significativamente por causa das posições dos países que privilegiam os seus interesses nacionais sobre o bem comum global» (Francisco, Carta enc. Laudato si’, 169). Assistimos a posições rígidas, senão mesmo inflexíveis, que tendem a tutelar os lucros pessoais e das próprias empresas, justificando-se por vezes com aquilo que outros fizeram no passado, verificando-se balsos periódicos das responsabilidades. Entretanto o dever a que hoje estamos chamados tem a ver, não com o ontem, mas com o amanhã; um amanhã que, queiramos ou não, será de todos ou não existirá.
Magoam em particular as tentativas de descarregar as responsabilidades sobre a multidão dos pobres e o índice dos nascimentos. Trata-se de tabus que devem ser firmemente desmascarados. Não é culpa dos pobres, porque quase metade do mundo, a mais indigente, é responsável apenas por 10% das emissões poluidoras, enquanto nunca apareceu tão abissal o fosso entre o limitado grupo de facultosos e os inúmeros desvalidos. Na realidade, estes é que são as vítimas do que está a acontecer: pensemos nas populações indígenas, na desflorestação, no drama da fome, na insegurança hídrica e alimentar, nos fluxos migratórios induzidos. Quanto aos nascimentos, não se trata dum problema, mas dum recurso: não são contra a vida, mas a favor da vida, enquanto certos modelos ideológicos e utilitaristas, que se vão impondo com luvas de veludo a famílias e populações, representam verdadeiras colonizações. Que não seja penalizado o progresso de tantos países, já sobrecarregados com onerosas dívidas económicas; considere-se, antes, o impacto de umas poucas nações, responsáveis por uma preocupante dívida ecológica para com muitas outras (cf. ibid., 51-52). Seria justo encontrar adequadas modalidades de remissão das dívidas financeiras que pesam sobre vários povos, à luz da dívida ecológica também existente para com eles.
Senhoras e Senhores, permiti que, em nome da Casa Comum que habitamos, me dirija a vós como a irmãos e irmãs pondo a questão: Qual é a via de saída? Aquela que estais a percorrer nestes dias: a via do caminho em conjunto, o multilateralismo. De facto, «o mundo está a tornar-se tão multipolar e, simultaneamente, tão complexo que é necessário um quadro diferente para uma cooperação eficaz. Não basta pensar nos equilíbrios de poder (…). Trata-se de estabelecer regras universais e eficazes» (Exort. ap. Laudate Deum, 42). A propósito, preocupa constatar que o aquecimento da terra seja acompanhado por um resfriamento geral do multilateralismo, por uma crescente desconfiança na comunidade internacional, pela perda da «comum consciência de ser (…) uma família de nações» (São João Paulo II, Discurso à Assembleia Geral das Nações Unidas por ocasião do cinquentenário da sua fundação, Nova Iorque, 05/X/1995, 14). É essencial reconstruir a confiança, fundamento do multilateralismo.
Isto vale tanto para o cuidado da criação como para a paz: são as questões mais urgentes e estão interligadas. Quantas energias está desperdiçando a humanidade nas várias guerras em curso, como sucede em Israel e na Palestina, na Ucrânia e em muitas regiões da terra: conflitos que, em vez de resolver os problemas, aumentá-los-ão! Quantos recursos desperdiçados nos armamentos, que destroem vidas e arruínam a Casa Comum! Relanço uma proposta: «Com o dinheiro usado em armas e noutras despesas militares, constituamos um Fundo Mundial, para acabar de vez com a fome» (Francisco, Carta enc. Fratelli tutti, 262; cf. São Paulo VI, Carta Enc. Populorum progressio, 51) e realizar atividades que promovam o desenvolvimento sustentável dos países mais pobres, combatendo as mudanças climáticas.
É tarefa desta geração dar ouvidos aos povos, aos jovens e às crianças para lançar as bases dum novo multilateralismo. Por que não começar precisamente da Casa Comum? As alterações climáticas alertam para a necessidade duma mudança política. Saiamos das vielas estreitas dos particularismos e dos nacionalismos; são esquemas do passado. Abracemos uma visão alternativa, comum: esta permitirá uma conversão ecológica, porque «não há mudanças duradouras sem mudanças culturais» (Exort. ap. Laudate Deum, 70). Neste âmbito, posso garantir o empenho e o apoio da Igreja Católica, ativa de forma especial na educação procurando sensibilizar para a participação comum e promover estilos corretos de vida, pois a responsabilidade é de todos, sendo fundamental a responsabilidade de cada um.
Irmãs e irmãos, é essencial mudar o passo e de tal modo que não se reduza a uma modificação parcial da rota, mas seja um novo modo de avançar juntos. Se no caminho da luta contra as alterações climáticas, que se inaugurou no Rio de Janeiro em 1992, o Acordo de Paris marcou «um novo início» (Ibid., 47), agora temos necessidade de relançar o caminho. Precisamos de dar um sinal concreto de esperança. Que esta COP seja um ponto de viragem: manifeste uma vontade política clara e palpável que leve a uma decidida aceleração da transição ecológica através de formas que tenham três caraterísticas: sejam «eficientes, vinculantes e facilmente monitoráveis» (Ibid., 59). E encontrem realização em quatro campos: a eficiência energética, as fontes renováveis, a eliminação dos combustíveis fósseis, a educação para estilos de vida menos dependentes destes últimos
Por favor, avancemos! Não voltemos atrás… Sabe-se que vários acordos e compromissos assumidos «tiveram um baixo nível de implementação, porque não se estabeleceram adequados mecanismos de controle, revisão periódica e sanção das violações» (Carta enc. Laudato si’, 167). Trata-se de não adiar mais, de implementar, e não apenas desejar, o bem dos vossos filhos, dos vossos cidadãos, dos vossos países, do nosso mundo. Que vós sejais os artífices duma política que dê respostas concretas e coesas, comprovando a nobreza da função que desempenhais, a dignidade do serviço que prestais. Porque o poder serve para isto: para servir. E não adianta conservar hoje uma autoridade que amanhã será recordada pela sua incapacidade de intervir quando era urgente e necessário (cf. ibid., 57). A história ficar-vos-á reconhecida por isso, e agradecer-vos-ão também as sociedades onde viveis e em cujo seio prolifera uma nefasta divisão de “claques”: entre catastrofistas e indiferentes, entre ambientalistas radicais e negativistas climáticos. E é inútil alinhar por uma das partes; neste caso, tal como na causa da paz, isso não oferece qualquer remédio. O remédio é a boa política: se um exemplo de concretização e coesão vier de cima, beneficiará a base, onde muitos, especialmente jovens, já estão empenhados em promover o cuidado da Casa Comum.
Possa o ano de 2024 marcar um ponto de viragem. Gostaria que fosse de bom auspício um episódio ocorrido em 1224. Naquele ano, Francisco de Assis compôs o Cântico das Criaturas. Fê-lo depois duma noite passada no meio de dores físicas, já completamente cego. Depois daquela noite de luta, de espírito aliviado por uma experiência espiritual, ele quis louvar o Altíssimo pelas criaturas que já não via, mas sentia como irmãos e irmãs, porque descendiam do mesmo Pai e partilhavam a existência com os outros homens e mulheres. Assim, inspirado por um sentido de fraternidade, foi capaz de transformar a dor em louvor e o cansaço em empenho. Pouco depois acrescentaria uma estrofe na qual louvava a Deus por aqueles que perdoam, e fê-lo para dirimir – com sucesso! – um escandaloso litígio entre o Governador local e o Bispo. Também eu, que trago o nome de Francisco, gostaria de vos dizer com o tom veemente duma oração: deixemos para trás as divisões e unamos forças! E, com a ajuda de Deus, saiamos da noite das guerras e das devastações ambientais para transformar o futuro comum numa alvorada de luz. Obrigado.
1. « C’EST LA CONFIANCE et rien que la confiance qui doit nous conduire à l’Amour – só a confiança e nada mais do que a confiança tem de conduzir-nos ao Amor». [1]
2. Estas palavras tão incisivas de Santa Teresa do Menino Jesus e da Santa Face dizem tudo, sintetizam a genialidade da sua espiritualidade e seriam suficientes para justificar o facto de ter sido declarada Doutora da Igreja. Só a confiança e «nada mais»… Não há outra via que devamos percorrer para ser conduzidos ao Amor que tudo dá. Com a confiança, a fonte da graça transborda na nossa vida, o Evangelho faz-se carne em nós e transforma-nos em canais de misericórdia para os irmãos.
3. É a confiança que nos sustenta cada dia e nos manterá de pé diante do olhar do Senhor, quando nos chamar para junto de Si: «Na noite desta vida, aparecerei diante de Vós com as mãos vazias, pois não Vos peço, Senhor, que conteis as minhas obras. Todas as nossas justiças têm manchas aos vossos olhos. Quero, portanto, revestir-me com a vossa própria Justiça, e receber do vosso Amor a posse eterna de Vós mesmo». [2]
4. Teresinha é uma das santas mais conhecidas e amadas em todo o mundo. Como sucede com São Francisco de Assis, é amada até por não-cristãos e não-crentes. Foi também reconhecida pela UNESCO entre as figuras mais significativas para a humanidade contemporânea. [3] Far-nos-á bem aprofundar a sua mensagem, ao comemorarmos o 150º aniversário do seu nascimento que teve lugar em Alençon a 2 de janeiro de 1873 e o centenário da sua beatificação. [4] Mas não quis publicar esta Exortação em nenhuma dessas datas, nem no dia da sua Memória, para que a mensagem se situe além das ocorrências e seja assumida como parte do tesouro espiritual da Igreja. A data da presente publicação, Memória de Santa Teresa de Ávila, quer apresentar Santa Teresa do Menino Jesus e da Santa Face como fruto maduro da reforma do Carmelo e da espiritualidade da grande Santa espanhola.
5. A sua vida terrena foi breve (apenas vinte e quatro anos) e simples como qualquer outra, passada primeiro em família e depois no Carmelo de Lisieux. A extraordinária carga de luz e amor, que irradiava da sua pessoa, manifestou-se logo depois da sua morte, com a publicação dos seus escritos e as graças inumeráveis obtidas pelos fiéis que a invocavam.6. A Igreja reconheceu, rapidamente, o valor extraordinário do seu testemunho e a originalidade da sua espiritualidade evangélica. Teresa encontrou o Papa Leão XIII, por ocasião da peregrinação a Roma em 1887, e pediu-lhe autorização para entrar no Carmelo com a idade de quinze anos. Pouco depois da sua morte, São Pio X apercebeu-se da sua enorme estatura espiritual, a ponto de afirmar que se tornaria a maior Santa dos tempos modernos. Declarada venerável em 1921 por Bento XV, que elogiou as suas virtudes focalizando-as no «caminhito» da infância espiritual, [5] foi beatificada há cem anos e, depois, canonizada em 17 de maio de 1925 por Pio XI, que agradeceu ao Senhor ter-lhe permitido que Santa Teresa do Menino Jesus e da Santa Face fosse «a primeira beata que elevou às honras dos altares e a primeira santa canonizada por ele» [6]. Em 1927, o mesmo Papa declarou-a padroeira das missões. [7] Foi proclamada uma das padroeiras da França, em 1944, pelo venerável Pio XII, [8] que em diversas ocasiões aprofundou o tema da infância espiritual. [9] São Paulo VI gostava de recordar que recebera o Batismo em 30 de setembro de 1897, dia da morte de Santa Teresinha, escrevendo no centenário de seu nascimento uma carta sobre a sua doutrina, que dirigiu ao Bispo de Bayeux e Lisieux. [10] Durante a sua primeira viagem apostólica à França, no mês de junho de 1980, São João Paulo II visitou a Basílica a ela dedicada e, em 1997, declarou-a Doutora da Igreja, [11] contemplando-a depois em tal catálogo «como perita da scientia amoris». [12] Bento XVI retomou o tema da sua « ciência do amor», propondo-a como «uma guia para todos, sobretudo para aqueles que, no Povo de Deus, desempenham o ministério de teólogos». [13] Por fim, em 2015, tive eu a alegria de canonizar os seus pais Luís e Célia durante o Sínodo da família e, recentemente, dediquei-lhe uma Catequese na série sobre o zelo apostólico. [14]
1. Levar Jesus aos outros
7. No nome que escolheu como religiosa, põe-se em evidência Jesus: o «Menino» que manifesta o mistério da Encarnação, e a «Santa Face», isto é, o rosto de Cristo que Se dá até ao fim na Cruz. O seu nome é «Santa Teresa do Menino Jesus e da Santa Face».8. O Nome de Jesus cadenciou continuamente a «respiração» de Teresa como ato de amor, até ao último respiro. Na sua cela, gravara estas palavras: «Jesus é o meu único amor». Foi a sua interpretação da afirmação culminante do Novo Testamento: «Deus é amor» (1 Jo 4, 8.16).
Alma missionária
9. Como sucede em todo o encontro autêntico com Cristo, esta experiência de fé chamava-a para a missão. Teresa pôde definir a sua missão com as seguintes palavras. «Eu desejarei no Céu o mesmo que na terra: amar Jesus e fazê-Lo amar». [15] Escreveu que entrara no Carmelo «para salvar as almas». [16] Por outras palavras, não concebia a sua consagração a Deus sem a busca do bem dos irmãos. Partilhava o amor misericordioso do Pai pelo filho pecador e o do Bom Pastor pelas ovelhas perdidas, distantes, feridas. Por isso, é padroeira das missões, mestra de evangelização.
10. As últimas páginas da História de uma alma [17] são um testamento missionário, exprimem a sua maneira de entender a evangelização por atração, [18] e não por pressão ou proselitismo. Vale a pena ler como ela própria a sintetiza: «“ Atraí-me, correremos ao odor dos vossos perfumes”. Ó Jesus, nem sequer é necessário dizer: “Atraindo-me, atraí as almas que amo!” Esta simples palavra: “Atraí-me”, basta. Senhor, eu compreendo. Quando uma alma se deixou cativar pelo odor inebriante dos vossos perfumes, não seria capaz de correr sozinha: todas as almas que ama são arrastadas atrás dela. Isto faz-se sem constrangimento, sem esforço; é uma consequência natural da sua atração para Vós. Assim como uma torrente, lançando-se impetuosamente no oceano, arrasta consigo tudo o que encontrou no seu percurso, do mesmo modo, ó meu Jesus, a alma que mergulha no oceano sem limites do vosso amor, leva com ela todos os tesouros que possui... Senhor, bem o sabeis, não tenho mais nenhum tesouro a não ser as almas que Vos aprouve unir à minha». [19]
11. Aqui cita as palavras que a esposa dirige ao esposo no Cântico dos Cânticos (1, 3-4), seguindo a interpretação aprofundada pelos dois doutores do Carmelo, Santa Teresa de Jesus e São João da Cruz. O Esposo é Jesus, o Filho de Deus que Se uniu à nossa humanidade na Encarnação e a redimiu na Cruz. Lá, do seu lado aberto, deu à luz a Igreja, sua Esposa amada, pela qual ofereceu a vida (cf. Ef 5, 25). O que impressiona é ver como Teresinha, ciente de estar próxima da morte, não vive este mistério fechada em si mesma, procurando apenas um sentido consolador, mas vive-o com um ardente espírito apostólico.
A graça que nos liberta da autorreferencialidade
12. Sucede algo semelhante quando se refere à ação do Espírito Santo, que adquire imediatamente um sentido missionário: «Eis a minha oração. Peço a Jesus que me atraia para as chamas do seu amor, que me una tão estreitamente a Ele, que viva e atue em mim. Estou certa de que quanto mais o fogo do amor abrasar o meu coração, tanto mais eu direi: “Atraí-me”; e mais as almas que se aproximarem de mim (pobre pedacito de ferro inútil, se me afastasse do braseiro divino), correrão, ligeiras, ao odor dos perfumes do seu Bem-amado, pois uma alma abrasada de amor não pode ficar inativa». [20]
13. No coração de Teresinha, a graça do Batismo tornou-se uma torrente impetuosa que desagua no oceano do amor de Cristo, arrastando consigo uma multidão de irmãs e irmãos, o que se verificou especialmente depois da sua morte. Foi a sua prometida «chuva de rosas». [21]
2. O caminhito da confiança e do amor
14. Uma das descobertas mais importantes de Teresinha, para bem de todo o Povo de Deus, é o seu «caminhito», o caminho da confiança e do amor, conhecido também como o caminho da infância espiritual. Todos o podem seguir, em qualquer estado de vida, nos mais diversos momentos da existência. É o caminho que o Pai celeste revela aos pequeninos (cf. Mt 11, 25). 15. Teresinha conta a descoberta do caminhito na História de uma alma: [22] «Posso, apesar da minha pequenez, aspirar à santidade. Fazer-me crescer a mim mesma é impossível; tenho de suportar-me tal como sou, com todas as minhas imperfeições. Mas quero procurar a maneira de ir para o Céu por um caminhito muito direito, muito curto; um caminhito completamente novo». [23] 16. Para o descrever, recorre à imagem do elevador: «O ascensor que me há de elevar até ao Céu são os vossos braços, ó Jesus! Para isso não tenho necessidade de crescer; pelo contrário, é preciso que eu permaneça pequena, e que me torne cada vez mais pequena». [24] Vê-se pequena, incapaz de fiar-se em si própria, embora firmemente certa da força amorosa dos braços do Senhor. 17. É o «doce caminho do amor», [25] aberto por Jesus aos pequeninos e aos pobres, a todos. É o caminho da verdadeira alegria. Diversamente da ideia pelagiana de santidade, [26] individualista e elitista, mais ascética do que mística, que põe o acento principalmente no esforço humano, Teresinha realça sempre o primado da ação de Deus, da sua graça. Assim chega a dizer: «Sinto sempre a mesma confiança audaciosa de me tornar uma grande Santa, pois não conto com os meus méritos, não tenho nenhum, mas espero n’Aquele que é a Virtude, a própria Santidade. Só Ele, contentando-Se com os meus fracos esforços, me elevará até Ele e, cobrindo-me dos seus méritos infinitos, me fará Santa». [27]
Para além de qualquer mérito
18. Este modo de pensar não contrasta com a doutrina católica tradicional sobre o crescimento da graça, isto é, que, uma vez justificados gratuitamente pela graça santificante, ficamos transformados e capacitados para cooperar, com as nossas boas obras, num caminho de crescimento na santidade. E assim somos elevados de modo a poder obter méritos reais para o desenvolvimento da graça recebida. 19. Teresinha, porém, prefere sublinhar o primado da ação divina e convidar à plena confiança, tendo diante dos olhos o amor de Cristo que Se nos deu até ao fim. No fundo, é este o seu ensinamento: como não podemos ter qualquer certeza olhando para nós mesmos, [28] é impossível estar seguros de possuir méritos próprios. Por conseguinte, não é possível confiar nestes esforços ou realizações. O Catecismo quis citar estas palavras de Santa Teresinha dirigidas ao Senhor: «Aparecerei diante de Vós com as mãos vazias», [29] para exprimir que «os santos tiveram sempre uma consciência viva de que os seus méritos eram pura graça». [30] Esta convicção suscita uma jubilosa e terna gratidão. 20. Por isso, a atitude mais adequada é depositar a confiança do coração fora de nós mesmos, ou seja, na infinita misericórdia de um Deus que ama sem limites e que deu tudo na Cruz de Jesus. [31] Daí que Teresa nunca usa a expressão, frequente no seu tempo, «hei de fazer-me santa». 21. Todavia a sua confiança sem limites encoraja aqueles que se sentem frágeis, limitados, pecadores a deixarem-se conduzir e transformar para chegar ao alto: «Ah! se todas as almas débeis e imperfeitas sentissem o que sente a mais pequena de todas as almas – a alma da vossa Teresinha – nem uma única perderia a esperança de chegar à Montanha do Amor, uma vez que Jesus não pede grandes ações, mas apenas o abandono e a gratidão». [32] 22. E esta mesma insistência de Teresinha na iniciativa divina faz com que, ao falar da Eucaristia, não coloque em primeiro lugar o seu desejo de receber Jesus na Sagrada Comunhão, mas o desejo de Jesus que quer unir-Se a nós e habitar nos nossos corações. [33] No Oferecimento ao Amor Misericordioso, sofrendo por não poder comungar todos os dias, diz a Jesus: «Ficai em mim, como no Sacrário». [34] O centro e o objeto do seu olhar não é ela própria com as suas necessidades, mas Cristo que ama, que procura, que deseja, que mora na alma.
O abandono quotidiano
23. A confiança que Teresinha fomenta não deve ser entendida apenas em referimento à própria santificação e salvação. Mas possui um sentido integral, que abraça o conjunto da existência concreta e aplica-se a toda a nossa vida, onde muitas vezes nos dominam os medos, o desejo de seguranças humanas, a necessidade de ter tudo sob controle. É aqui que aparece o convite ao santo «abandono». 24. A confiança plena, que se torna abandono ao Amor, liberta-nos de cálculos obsessivos, da preocupação constante com o futuro, dos medos que tiram a paz. Nos últimos dias da sua vida, Teresinha insistia nisto: «Creio que nós, que corremos pelo caminho do Amor, não devemos pensar no que nos pode acontecer de doloroso no futuro, porque é faltar à confiança». [35] A verdade é que, se estamos nas mãos dum Pai que nos ama sem limites, venha o que vier havemos de o ultrapassar e, duma forma ou doutra, cumprir-se-á na nossa vida o seu projeto de amor e de plenitude.
Um fogo no meio da noite
25. Teresinha experimentava a fé mais forte e segura no meio da escuridão da noite e até na escuridão do Calvário. O seu testemunho atingiu o ponto culminante no último período da vida, na grande «provação contra a fé», [36] que começou na Páscoa de 1896. Na sua narração, [37] coloca esta provação em relação direta com a dolorosa realidade do ateísmo do seu tempo. De facto, viveu no final do século XIX, isto é, na «idade de ouro» do ateísmo moderno como sistema filosófico e ideológico. Quando escrevia que Jesus permitira que a sua alma «fosse invadida pelas mais espessas trevas», [38] pensava na obscuridade do ateísmo e na rejeição da fé cristã. Em união com Jesus, que acolheu em Si toda a obscuridade do pecado do mundo quando aceitou beber o cálice da Paixão, Teresinha prova, naquela escuridão tenebrosa, o desespero, o vazio do nada. [39] 26. Mas a obscuridade não pode extinguir a luz: a obscuridade foi vencida por Aquele que, como Luz, veio ao mundo (cf. Jo 12, 46). [40] A narração de Teresinha manifesta o caráter heroico da sua fé, a sua vitória no combate espiritual contra as mais fortes tentações. Sente-se irmã dos ateus e sentada, como Jesus, à mesa com os pecadores (cf. Mt 9, 10-13). Intercede por eles, ao mesmo tempo que renova continuamente o seu ato de fé, sempre em comunhão amorosa com o Senhor: «Corro para o meu Jesus, e digo-Lhe que estou pronta a derramar o sangue até à última gota para confessar que o Céu existe. Digo-Lhe que estou contente por não gozar esse belo Céu sobre a terra, para que Ele o abra por toda a eternidade aos pobres incrédulos». [41] 27. Juntamente com a fé, Teresa vive intensamente uma confiança ilimitada na misericórdia infinita de Deus, «a confiança [que] tem de conduzir-nos ao Amor». [42] Vive, mesmo na escuridão, a confiança total da criança que se abandona sem medo nos braços do pai e da mãe. De facto, para Teresinha, Deus resplandece antes de mais nada através da sua misericórdia, chave de compreensão para qualquer outra coisa que se diga d’Ele: «A mim deu-me a sua Misericórdia infinita, e é através dela que contemplo e adoro as demais perfeições divinas. Assim, todas se me apresentam resplandecentes de amor. A própria Justiça (e talvez mais ainda que qualquer outra) me parece revestida de amor». [43] Esta é uma das descobertas mais importantes de Teresinha, um dos maiores contributos que prestou a todo o Povo de Deus. De modo extraordinário, penetrou nas profundezas da misericórdia divina e, de lá, retirou a luz da sua ilimitada esperança.
Uma esperança firmíssima
28. Antes da sua entrada no Carmelo, Teresinha experimentara singular proximidade espiritual a uma das pessoas mais desventuradas: o criminoso e impenitente Henrique Pranzini, condenado à morte por triplo homicídio. [44] Oferecendo a Missa por ele e rezando com toda a confiança pela sua salvação, tem a certeza de o pôr em contacto com o Sangue de Jesus e diz a Deus estar certíssima de que, no último momento, Ele o perdoaria, acreditando nisso «mesmo que ele não se confessasse e não mostrasse nenhum sinal de arrependimento». E dá a razão de ser da sua certeza: «tanta confiança eu tinha na misericórdia infinita de Jesus!» [45] Grande comoção se apodera dela, depois, ao descobrir que Pranzini, tendo já subido ao cadafalso, «levado por uma súbita inspiração, volta-se, agarra o Crucifixo, que o sacerdote lhe apresentava, e beija por três vezes as suas sagradas chagas!» [46] Esta experiência intensa a ponto de esperar contra toda a esperança foi fundamental para ela: «Ah! a partir desta graça única, o meu desejo de salvar as almas cresceu de dia para dia». [47] 29. Teresa está ciente do drama do pecado, embora a vejamos sempre mergulhada no mistério de Cristo, com a certeza de que, «onde aumentou o pecado, superabundou a graça» ( Rm 5, 20). O pecado do mundo é imenso, mas não é infinito. Ao contrário, o amor misericordioso do Redentor… esse, sim, é infinito. Teresinha é testemunha da vitória definitiva de Jesus sobre todas as forças do mal, através da sua paixão, morte e ressurreição. Movida pela confiança, ousa dizer: «Jesus, faz-me salvar muitas almas, que hoje não haja uma só condenada (...). Jesus, perdoa-me se eu digo coisas que não se devem dizer, só quero alegrar-Te e consolar-Te». [48] Isto permite-nos passar a outro aspeto da aragem fresca que brota da mensagem de Santa Teresa do Menino Jesus e da Santa Face.
3. Serei o amor
30. «Maior» do que a fé e a esperança, a caridade nunca acabará (cf. 1 Cor 13, 8-13). É o maior dom do Espírito Santo, sendo «mãe e raiz de todas as virtudes». [49]
A caridade como atitude pessoal de amor
31. A História de uma alma é um testemunho de caridade, no qual Teresa nos oferece um comentário sobre o mandamento novo de Jesus: «Que vos ameis uns aos outros como Eu vos amei» ( Jo 15, 12). [50] Jesus tem sede desta resposta ao seu amor. De facto, «não receou mendigar um pouco de água à Samaritana. Tinha sede... Mas ao dizer: “Dá-me de beber”, era o amor da sua pobre criatura que o Criador do universo reclamava. Tinha sede de amor». [51] Teresinha quer corresponder ao amor de Jesus, pagar-Lhe amor com amor. [52] 32. A simbologia do amor esponsal expressa a reciprocidade do dom de si entre o noivo e a noiva. Assim, inspirada pelo Cântico dos Cânticos (2, 16), escreve: «Penso que o coração do meu Esposo é só meu como o meu é só d’Ele e então falo-Lhe na solidão desta deliciosa intimidade, esperando contemplá-Lo um dia face a face». [53] Embora o Senhor nos ame em conjunto como povo, ao mesmo tempo a caridade atua, de modo muito pessoal, «de coração a coração». 33. Teresinha tem a viva certeza de que Jesus a amou e conheceu pessoalmente na sua Paixão: «Amou-me e a Si mesmo Se entregou por mim» ( Gl 2, 20). Contemplando Jesus em agonia, diz-Lhe ela: «Tu viste-me», [54] como diz ao Menino Jesus nos braços de sua Mãe: «Com a tua mãozinha, que acariciava Maria, sustinhas o mundo e davas-lhe vida. E pensavas em mim». [55] Assim, também no início da História de uma Alma, contempla o amor de Jesus por todos e por cada um como se fosse único no mundo. [56] 34. O ato de amor «Jesus, amo-Te», vivido continuamente por Teresa ao ritmo da respiração, é a sua chave de leitura do Evangelho. Com este amor, mergulha em todos os mistérios da vida de Cristo, dos quais se faz contemporânea, habitando o Evangelho juntamente com Maria e José, Maria de Magdala e os Apóstolos. Juntamente com eles, penetra nas profundezas do amor do Coração de Jesus. Vejamos um exemplo: «Quando vejo Madalena avançar na presença de numerosos convidados, banhar com as suas lágrimas os pés do Mestre adorado que toca pela primeira vez, sinto que o coração dela compreendeu os abismos de amor e de misericórdia do Coração de Jesus e que, por muito pecadora que ela seja, este Coração de amor está não só disposto a perdoar-lhe, mas ainda a prodigalizar-lhe os benefícios da sua intimidade divina, e elevá-la até aos mais altos cumes da contemplação». [57]
O maior amor na maior simplicidade
35. No final da História de uma Alma, Teresa deixa-nos o seu Oferecimento como Vítima de Holocausto ao Amor Misericordioso de Deus. [58] Quando se entregou plenamente à ação do Espírito, recebeu, sem clamor nem sinais vistosos, a superabundância da água viva: «as ondas, ou antes, os oceanos de graças que vieram inundar-me a alma». [59] Trata-se da vida mística que, mesmo privada de fenómenos extraordinários, é proposta a todos os fiéis como experiência quotidiana de amor. 36. Teresa vive a caridade na pequenez, nas coisas mais simples da existência de cada dia, e fá-lo em companhia da Virgem Maria, aprendendo d’Ela que «amar é tudo dar, e dar-se a si mesmo». [60] Com efeito, enquanto os pregadores do seu tempo falavam com frequência da grandeza de Maria de forma triunfalista, como se estivesse afastada de nós, Teresinha mostra, a partir do Evangelho, que Maria é a maior do Reino dos Céus porque é a mais pequena (cf. Mt 18, 4), a mais próxima de Jesus na sua humilhação. Observa que, se as narrações apócrifas estão cheias de factos atraentes e maravilhosos, os Evangelhos mostram-nos uma vida humilde e pobre, passada na simplicidade da fé. O próprio Jesus quer que Maria seja o exemplo da alma que O procura com uma fé árida. [61] Maria foi a primeira a viver o «caminhito» na fé pura e na humildade; por isso, Teresa não hesita em escrever: «Sei que em Nazaré, Mãe cheia de graça Viveste pobremente, não querendo nada mais Nem arroubamentos, nem milagres, nem êxtases Embelezaram a tua vida, ó Rainha dos Eleitos!... O número dos pequenos é bem grande na terra Eles podem sem receio erguer os olhos para ti É pela via comum, incomparável Mãe Que te apraz caminhar guiando-os para o Céu». [62]
37. Teresinha também nos deixou narrações que testemunham alguns momentos de graça vividos no meio da simplicidade de cada dia, como a sua inspiração repentina enquanto acompanhava uma irmã doente com um temperamento difícil. Mas trata-se sempre duma caridade mais intensa vivida nas situações mais ordinárias: «Uma noite de inverno, cumpria, como de costume, o meu pequeno ofício. Estava frio, era noite... De repente, ouvi ao longe o som harmonioso de um instrumento musical. Então imaginei um salão bem iluminado, todo resplandecente de dourados, de donzelas elegantemente vestidas, dirigindo-se mutuamente cumprimentos e cortesias mundanas. A seguir, o meu olhar pousou na pobre doente que amparava; em vez de uma melodia, ouvia, de vez em quando, os seus gemidos queixosos; em vez de dourados, via os tijolos do nosso claustro austero, mal iluminado por uma luz muito frouxa. Não consigo exprimir o que se passou na minha alma; o que sei é que o Senhor a iluminou com os reflexos da verdade, que ultrapassavam de tal maneira o brilho tenebroso das festas da terra, que não podia acreditar na minha felicidade... Ah! para gozar mil anos de festas mundanas, não teria dado os dez minutos gastos no cumprimento do meu humilde ofício de caridade». [63]
No coração da Igreja
38. Teresinha herdou de Santa Teresa de Ávila um grande amor pela Igreja, chegando a atingir as profundezas deste mistério. Vemo-lo na sua descoberta do «coração da Igreja». Numa longa oração a Jesus, [64] escrita a 8 de setembro de 1896, no sexto aniversário da sua profissão religiosa, a Santa confia ao Senhor que se sentia animada por um desejo imenso, por uma paixão pelo Evangelho que nenhuma vocação, por si só, podia satisfazer. E assim, procurando o seu «lugar» na Igreja, lera uma vez e outra os capítulos 12 e 13 da I Carta de São Paulo aos Coríntios. 39. No capítulo 12, o Apóstolo utiliza a metáfora do corpo e dos seus membros para explicar que a Igreja engloba uma grande variedade de carismas dispostos numa ordem hierárquica. Mas esta descrição não é suficiente para Teresinha; continua a sua busca. Lê o «hino da caridade» no capítulo 13, encontra lá a grande resposta e escreve esta página memorável: «Considerando o corpo místico da Igreja, não me tinha reconhecido em nenhum dos membros descritos por São Paulo; ou melhor, queria reconhecer-me em todos... A caridade deu-me a chave da minha vocação. Compreendi que se a Igreja tinha um corpo composto de diversos membros, o mais necessário, o mais nobre de todos não lhe faltava: compreendi que a Igreja tinha um coração, e que esse coração estava ardendo de amor. Compreendi que só o Amor fazia agir os membros da Igreja; que se o Amor se apagasse, os apóstolos já não anunciariam o Evangelho, os mártires recusar-se-iam a derramar o seu sangue... Compreendi que o Amor encerra todas as Vocações, que o Amor é tudo, que abarca todos os tempos e todos os lugares... numa palavra, que é Eterno! Então, num transporte de alegria delirante, exclamei: “Ó Jesus, meu Amor, encontrei finalmente a minha vocação; a minha vocação é o Amor!” Sim, encontrei o meu lugar na Igreja, e esse lugar, ó meu Deus, fostes Vós que mo destes. No coração da Igreja, minha Mãe, eu serei o Amor. Assim serei tudo..., assim o meu sonho será realizado!» [65] 40. Não é o coração duma Igreja triunfalista, mas o coração duma Igreja amante, humilde e misericordiosa. Teresa nunca se coloca acima dos outros, mas no último lugar com o Filho de Deus, que por nós Se tornou servo e humilhou, fazendo-Se obediente até à morte numa cruz (cf. Flp 2, 7-8). 41. Tal descoberta do coração da Igreja é uma grande luz também para nós hoje, a fim de não nos escandalizarmos por causa das limitações e fraquezas da instituição eclesiástica, marcada por obscuridades e pecados, e entrarmos no seu coração ardente de amor, que se incendiou no Pentecostes graças ao dom do Espírito Santo. É o coração cujo fogo se reaviva ainda com cada um dos nossos atos de caridade. «Eu serei o amor»: esta é a opção radical de Teresinha, a sua síntese definitiva, a sua identidade espiritual mais pessoal.
Chuva de rosas
4. No coração do Evangelho
46. Na Evangelii gaudium, insisti sobre o convite a regressar ao frescor da fonte, para dar relevo ao que é essencial e indispensável. Considero oportuno retomar e propor novamente aquele convite.
A Doutora da síntese
47. Esta Exortação sobre Santa Teresinha permite-me recordar que, numa Igreja missionária, «o anúncio concentra-se no essencial, no que é mais belo, mais importante, mais atraente e, ao mesmo tempo, mais necessário. A proposta acaba simplificada, sem com isso perder profundidade e verdade, e assim se torna mais convincente e radiosa». [74] O núcleo luminoso é « a beleza do amor salvífico de Deus manifestado em Jesus Cristo morto e ressuscitado». [75] 48. Nem tudo é igualmente central, porque há uma ordem ou hierarquia entre as verdades da Igreja, e «isto é válido tanto para os dogmas da fé como para o conjunto dos ensinamentos da Igreja, incluindo a doutrina moral». [76] O centro da moral cristã é a caridade, que é a resposta ao amor incondicional da Trindade, de modo que «as obras de amor ao próximo são a manifestação externa mais perfeita da graça interior do Espírito». [77] Em última análise, conta só o amor. 49. Precisamente, o contributo específico que Teresinha nos oferece como Santa e como Doutora da Igreja não é analítico, como poderia ser, por exemplo, o de São Tomás de Aquino. O seu contributo é sobretudo sintético, porque a sua genialidade consiste em levar-nos ao centro, àquilo que é essencial, àquilo que é indispensável. Com as suas palavras e com o seu percurso pessoal, mostra que, embora todos os ensinamentos e normas da Igreja tenham a sua importância, o seu valor, a sua luz, alguns são mais urgentes e mais constitutivos para a vida cristã. Foi nestes que Teresa fixou o olhar e o coração. 50. Como teólogos, moralistas, estudiosos de espiritualidade, como pastores e como crentes, cada qual no respetivo âmbito, temos ainda necessidade de acolher esta intuição genial de Teresinha e tirar as devidas consequências teóricas e práticas, doutrinais e pastorais, pessoais e comunitárias. São precisas audácia e liberdade interior para o poder fazer. 51. Às vezes, de Teresa, citam-se apenas expressões que são secundárias ou mencionam-se coisas que ela pode ter em comum com qualquer outro Santo: a oração, o sacrifício, a piedade eucarística e muitos outros belos testemunhos, mas assim poderíamos privar-nos daquilo que é mais específico do seu dom à Igreja, esquecendo que «cada santo é uma missão; é um projeto do Pai que visa refletir e encarnar, num momento determinado da história, um aspeto do Evangelho». [78] Por isso, «para identificar qual seja essa palavra que o Senhor quer dizer através dum santo, não convém deter-se nos detalhes, porque nisso também pode haver erros e quedas. Nem tudo o que um santo diz é plenamente fiel ao Evangelho, nem tudo o que faz é autêntico ou perfeito. O que devemos contemplar é o conjunto da sua vida, o seu caminho inteiro de santificação, aquela figura que reflete algo de Jesus Cristo e que sobressai quando se consegue compor o sentido da totalidade da sua pessoa». [79] E isto vale com maior força de razão para Santa Teresinha, senda ela uma «Doutora da síntese». 52. Do céu à terra, a atualidade de Santa Teresa do Menino Jesus e da Santa Face permanece em toda a sua «pequena grandeza». Num tempo que nos convida a fechar-nos nos próprios interesses, Teresinha mostra a beleza de fazer da vida um dom. Num período em que prevalecem as necessidades mais superficiais, ela é testemunha da radicalidade evangélica. Numa época de individualismo, ela faz-nos descobrir o valor do amor que se torna intercessão. Num momento em que o ser humano vive obcecado pela grandeza e por novas formas de poder, ela aponta a via da pequenez. Num tempo em que se descartam tantos seres humanos, ela ensina-nos a beleza do cuidado, do ocupar-se do outro. Num momento de complexidade, ela pode ajudar-nos a redescobrir a simplicidade, o primado absoluto do amor, da confiança e do abandono, superando uma lógica legalista e moralista que enche a vida cristã de obrigações e preceitos e congela a alegria do Evangelho. Num tempo de entrincheiramento e reclusão, Teresinha convida-nos à saída missionária, conquistados pela atração de Jesus Cristo e do Evangelho. 53. Século e meio depois do seu nascimento, Teresa está mais viva do que nunca no meio da Igreja em caminho, no coração do Povo de Deus. Está a peregrinar connosco, fazendo o bem sobre a terra, como tanto desejou. O sinal mais belo da sua vitalidade espiritual são as inúmeras «rosas» que vai espalhando, isto é, as graças que Deus nos concede pela sua intercessão cheia de amor, para nos sustentar no percurso da vida. Amada Santa Teresinha, A Igreja precisa de fazer resplandecer A cor, o perfume, a alegria do Evangelho. Enviai-nos as vossas rosas! Ajudai-nos a ter sempre confiança, Como fizestes vós, No grande amor que Deus tem por nós, Para podermos imitar cada dia O vosso caminhito de santidade. Amen. Dado em Roma, São João de Latrão, no dia 15 de outubro – Memória de Santa Teresa de Ávila – do ano 2023, décimo primeiro do meu Pontificado.
Queridos irmãos e irmãs, bom dia!
É precisamente o rito das cinzas que nos introduz neste caminho de regresso, fazendo-nos dois convites: regressar à verdade de nós mesmos e regressar a Deus e aos irmãos.
Obrigado, senhora Reitora, pelas suas palavras. Obrigado! Afirmou que todos nos sentimos «peregrinos», palavra esta cujo significado merece ser meditado. Literalmente, quer dizer deixar de lado a rotina habitual e pôr-se a caminho com um intento, que pode ser o de um passeio pelos campos ou ir mais além dos nossos confins habituais; seja como for, deixando o espaço de conforto pessoal rumo a um horizonte de sentido. Na imagem do «peregrino», espelha-se a conduta humana, pois todos somos chamados a confrontar-nos com grandes interrogativos que não têm resposta, não têm uma resposta simplista ou imediata, mas convidam a realizar uma viagem, superando-se a si mesmo, indo mais além. Trata-se dum processo que um universitário compreende bem, pois é assim que nasce a ciência. E de igual modo cresce também a busca espiritual. Peregrino é caminhar para uma meta ou à procura duma meta. Há sempre o perigo de mover-se num labirinto, onde não há meta, nem saída. Desconfiemos das fórmulas pré-fabricadas (são labirínticas), desconfiemos das respostas que nos parecem ao alcance da mão, das respostas extraídas da manga como se fossem cartas viciadas de jogar; desconfiemos das propostas que parecem dar tudo sem pedir nada. Desconfiemos. A difidência é uma arma para poder caminhar para diante e não continuar às voltas. Vemos numa parábola de Jesus que só encontra a pérola de grande valor quem a procura com sabedoria e com espírito de iniciativa, quem dá tudo e arrisca tudo o que tem para a possuir (cf. Mt 13, 45-46). Procurar e arriscar: estes são os dois verbos do peregrino. Procurar e arriscar.
Fernando Pessoa diz, de modo atormentado mas correto, que «ser descontente é ser homem» (Mensagem, O Quinto Império). Não devemos ter medo de nos sentir inquietos, de pensar que tudo o que possamos fazer não basta. Neste sentido e dentro duma justa medida, estar insatisfeito é um bom antídoto contra a presunção de autossuficiência e contra o narcisismo. O caráter incompleto define a nossa condição de indagadores e peregrinos; como diz Jesus, estamos no mundo, mas não somos do mundo (cf. Jo 17, 16). Estamos caminhando «para». Somos chamados a algo mais, a uma decolagem sem a qual não há voo. Portanto, não nos alarmemos se nos encontramos intimamente sedentos, inquietos, incompletos, desejosos de sentido e de futuro, com saudade do futuro. E aqui, junto com a saudade do futuro, não vos esqueçais de manter viva a memória do futuro. Não estamos doentes, estamos vivos! Preocupemo-nos antes quando estamos prontos a substituir a estrada a fazer por uma paragem em qualquer estação de serviço que nos dê a ilusão do conforto; quando substituímos os rostos pelos ecrãs, o real pelo virtual; quando, em vez das perguntas lacerantes, preferimos as respostas fáceis que anestesiam. E podemos encontrá-las em qualquer manual de relações sociais, de bom comportamento. As respostas fáceis anestesiam.
Amigos, permiti que vos diga: procurai e arriscai. Neste momento histórico, os desafios são enormes, os gemidos dolorosos: estamos a viver uma terceira guerra mundial feita aos pedaços. Mas abracemos o risco de pensar que não estamos numa agonia, mas num parto; não no fim, mas no início dum grande espetáculo. E é precisa coragem para pensar assim. Por isso sede protagonistas duma «nova coreografia» que coloque no centro a pessoa humana, sede coreógrafos da dança da vida. As palavras da senhora Reitora serviram-me de inspiração sobretudo quando afirmou que «a universidade não existe para se preservar como instituição, mas para responder com coragem aos desafios do presente e do futuro». A auto-preservação é uma tentação, é um reflexo condicionado pelo medo, que nos faz olhar para a existência de forma distorcida. Se as sementes se preservassem a si mesmas, desperdiçariam completamente a sua força geradora e condenar-nos-iam à fome; se os invernos se preservassem a si mesmos, não existiria a maravilha da primavera. Por isso, tende a coragem de substituir os medos pelos sonhos: substituí os medos pelos sonhos, não sejais administradores de medos, mas empreendedores de sonhos!Àuniversidade que se comprometeu a formar as novas gerações, seria um desperdício pensá-la apenas para perpetuar o atual sistema elitista e desigual do mundo com o ensino superior que continua a ser um privilégio de poucos. Se o conhecimento não for acolhido como uma responsabilidade, torna-se estéril. Se quem recebeu um ensino superior – que hoje, em Portugal e no mundo, continua a ser um privilégio –, não se esforça por restituir aquilo de que beneficiou, significa que não compreendeu profundamente o que lhe foi oferecido. Gosto de pensar que, no Génesis, as primeiras perguntas que Deus faz ao homem são: «Onde estás?» (3, 9) e «Onde está o teu irmão?» (4, 9). Far-nos-á bem perguntar-nos: Onde estou? Permaneço fechado no meu mundo ou abraço o risco de sair das minhas seguranças para me tornar um cristão praticante, um artesão de justiça, um artesão da beleza? E perguntemo-nos ainda: Onde está o meu irmão? Experiências de serviço fraterno como a «Missão País» e muitas outras, que nascem no meio académico, deveriam ser consideradas indispensáveis para quem passa por uma universidade. Com efeito, o título de estudo não deve ser visto apenas como uma licença para construir o bem-estar pessoal, mas como um mandato para se dedicar a uma sociedade mais justa, uma sociedade mais inclusiva, ou seja, mais desenvolvida. Disseram-me que a vossa grande poetisa Sophia de Mello Breyner Andresen, em entrevista que é uma espécie de testamento, à pergunta «o que gostaria de ver realizado em Portugal neste novo século?», respondeu sem hesitar: «Gostaria que se realizasse a justiça social, a diminuição das diferenças entre ricos e pobres» (“Entrevista feita por Joaci Oliveira”, Cidade Nova, nº 3/2001). Dirijo agora a mesma pergunta a vós, caros estudantes, peregrinos do saber: Que quereis ver realizado em Portugal e no mundo? Quais mudanças, qual transformação? E como pode a universidade, especialmente a Católica, contribuir para isso?
Beatriz, Mahoor, Mariana, Tomás, agradeço os vossos testemunhos. Em todos havia um tom de esperança, uma carga de entusiasmo realista, sem queixumes nem escapadelas idealistas. Quereis ser protagonistas, «protagonistas da mudança», como disse a Mariana. Ao escutar-vos veio-me ao pensamento uma frase do escritor Almada Negreiros, que talvez vos seja familiar: «Sonhei com um país onde todos chegavam a Mestres» (A Invenção do Dia Claro). Também este idoso que vos fala (é que já estou velho), este idoso sonha que a vossa geração se torne uma geração de mestres: mestres de humanidade, mestres de compaixão, mestres de novas oportunidades para o planeta e seus habitantes, mestres de esperança. E mestres que defendam a vida do planeta, ameaçada neste momento por uma grave destruição ecológica.
Como alguns de vós sublinharam, devemos reconhecer a urgência dramática de cuidar da casa comum. No entanto, isso não pode ser feito sem uma conversão do coração e uma mudança da visão antropológica subjacente à economia e à política. Não podemos contentar-nos com simples medidas paliativas ou com tímidos e ambíguos compromissos. Neste caso, «os meios-termos são apenas um pequeno adiamento do colapso» (Francisco, Carta enc. Laudato si’, 194). Não vos esqueçais disto: os meios-termos são apenas um pequeno adiamento do colapso. Trata-se, pelo contrário, de tomar a peito o que infelizmente continua a ser adiado, ou seja, a necessidade de redefinir o que chamamos progresso e evolução. É que, em nome do progresso, já se abriu caminho a um grande retrocesso. Pensai bem nisto que vos digo: em nome do progresso, já se abriu caminho a um grande retrocesso. Vós sois a geração que pode vencer este desafio: tendes instrumentos científicos e tecnológicos mais avançados, mas, por favor, não vos deixeis cair na 3 cilada de visões parciais. Não esqueçais que temos necessidade duma ecologia integral, de escutar o sofrimento do planeta juntamente com o dos pobres; necessidade de colocar o drama da desertificação em paralelo com o dos refugiados; o tema das migrações juntamente com o da queda da natalidade; necessidade de nos ocuparmos da dimensão material da vida no âmbito duma dimensão espiritual. Não queremos polarizações, mas visões de conjunto.Obrigado, Tomás, por nos teres dito que «não é possível uma verdadeira ecologia integral sem Deus, que não pode haver futuro num mundo sem Deus». Também eu gostaria de vos dizer: tornai credível a fé através das decisões. Porque se a fé não gera estilos de vida convincentes, não faz levedar a massa do mundo. Não basta que um cristão esteja convencido, deve ser convincente; as nossas ações são chamadas a refletir a beleza jubilosa e simultaneamente radical do Evangelho. Além disso, o cristianismo não pode ser habitado como uma fortaleza cercada de muros, que ergue baluartes contra o mundo. Por isso, achei tocante o testemunho de Beatriz, quando disse que é precisamente «a partir do campo da cultura» que se sente chamada a viver as Bem-aventuranças. Em cada época, uma das tarefas mais importantes para os cristãos é a de recuperar o sentido da encarnação. Sem a encarnação, o cristianismo torna-se uma ideologia e a tentação das «ideologias» cristãs (entre aspas), é muito atual; é a encarnação que permite maravilhar-se com a beleza que Cristo revela através de cada irmão e irmã, cada homem e mulher.
A propósito, é interessante que, na vossa nova cátedra dedicada à «Economia de Francisco», tenhais acrescentado a figura de Clara. De facto, é indispensável o contributo feminino. No inconsciente coletivo, quantas vezes se pensa que as mulheres são de segunda categoria, são reservas, não jogam como titulares. Isto existe no inconsciente coletivo. Mas a contribuição feminina é indispensável. Aliás vê-se, na Bíblia, como a economia familiar está em grande parte na mão da mulher. É ela a verdadeira «governante» da casa, com uma sabedoria que não visa exclusivamente o lucro, mas o cuidado, a convivência, o bem-estar físico e espiritual de todos, bem como a partilha com os pobres e os estrangeiros. E abordar os estudos económicos com esta perspetiva é entusiasmante, tendo em vista devolver à economia a dignidade que lhe compete, para que não caia como presa do mercado selvagem e da especulação.
A iniciativa do Pacto Educativo Global e os sete princípios da sua arquitetura incluem muitos desses temas, desde o cuidado da casa comum à plena participação das mulheres, à necessidade de encontrar novas formas de entender a economia, a política, o crescimento e o progresso. Convido-vos a estudar o Pacto Educativo Global, a apaixonar-vos por ele. Um dos pontos que trata é a educação para o acolhimento e a inclusão. E não podemos fingir que não ouvimos as palavras de Jesus no capítulo 25 de Mateus: «era estrangeiro e recolhestes-me» (25, 35). Acompanhei emocionado o testemunho de Mahoor, quando lembrou o que significa viver com o «sentimento constante de ausência de um lar, da família, dos amigos, (...) de ter ficado sem teto, sem universidade, sem dinheiro, (...) cansada, exausta e abatida pela dor e pelas perdas». Disse-nos que reencontrou a esperança porque alguém acreditou no impacto transformador da cultura do encontro. Sempre que alguém pratica um gesto de hospitalidade, desencadeia uma transformação.
Amigos, estou muito contente por vos ver como uma comunidade educativa viva, aberta à realidade e consciente de que o Evangelho não se limita a servir de ornamento, mas anima as partes e o todo. Sei que o vosso percurso engloba diversos âmbitos: estudo, amizade, serviço social, responsabilidade civil e política, cuidado da casa comum, expressões artísticas... Ser uma universidade católica significa, antes de mais nada, que cada elemento está em relação com o todo e o todo revê-se nas partes. Assim, ao mesmo tempo que se adquirem competências científicas, vai-se amadurecendo como pessoa, no conhecimento de si mesmo e no discernimento do próprio caminho. Caminho, sim; labirinto, não. Então avante! Uma tradição medieval conta que quando os peregrinos se cruzavam no Caminho de Santiago, um saudava o outro exclamando «Ultreia» ao que este respondia «et Suseia». Trata-se de expressões de encorajamento para prosseguir a busca e o risco da caminhada, dizendo-se mutuamente: «Vai mais longe e mais alto!» «Coragem, força, anda para diante!» E isto é o que também eu vos desejo, de todo o meu coração, a todos vós. Obrigado!
Bom dia! Scholas! Scholas! Scholas!
Quando me foi apresentado, não tive dúvidas em aceitar e abraçar porque é um espaço onde todos partilham as suas emoções e sentimentos. É um espaço onde cada um contribui com aquilo que tem, de valores éticos e morais para o bem estar da comunidade. Independentemente da sua religião ou origem. Sou guineense, da Guiné Bissau, e sou muçulmano. Mas sinto, sinto-me neste espaço. E, como sendo muçulmano, sinto obrigação e dever de me juntar e fazer parte deste movimento. Porque o que o islão também apela é a boa convivência entre as crenças, entre as diferentes crenças. E apela e zela pelo bem estar da comunidade. Apela para aquilo que devemos fazer, pelo cuidado que devemos ter com o próximo. E, por essa razão, gostaria de perguntar, o por que do Scholas ser um espaço onde todos se identificam e o por que de tanta diversidade para ter uma obra de arte? Obrigado.
Respuesta PAPA (ESP)
Scholas posibilita esto, que cada uno se sienta interpretado por el gran respeto, pero es un respeto no estático, dinámico, que pone en marcha para hacer cosas, para expresarse haciendo, como es esta pintura que, como me decía Del Corral, es una “Capilla Sixtina” pintada por ustedes. Scholas te pone en marcha, Scholas te hace respetar al otro y escuchar al otro que tiene algo que decirte y escucharte a vos porque tenés algo que decirle. Scholas te muestra el camino hacia adelante y, si por ahí te quedás, te levanta y te hace ir adelante. Scholas es un encuentro, caminando. Todos, del país que seas, de la religión que seas, solo mirar adelante y caminar juntos. Y eso es constructivo como los tres kilómetros y medio de mural que ustedes han hecho para llegar acá.
Pregunta 2 (POR)Eu queria seguir um pouco na direção da diversidade pra entrar no tema que foi a base dos nossos dois meses de trabalho que é o caos. Nós, enquanto grupo, e eu também individualmente, tivemos a oportunidade de visitar várias comunidades diferentes, várias pessoas diferentes, que são de religiões diferentes, são de culturas diferentes, e isso nos deu uma oportunidade grandiosa de aprofundar cada vez mais, não só dentro da própria pessoa, mas também de toda a comunidade que é descobrir o sentimento verdadeiro que elas tinham; as verdadeiras dores que elas sentiam; e, com isso, dar a oportunidade a elas de representarem tudo isso com uma pincelada, com uma linha no mural. Dar a oportunidade de se expressarem! E isso, querendo ou não, afeta a nós, toca o nosso coração, pra pensarmos: será que temos esse sentimento? Será que essas dores fazem parte de nós, do nosso convívio? Então, eu queria perguntar: o que seria da nossa existência sem o caos original? Obrigado.
Respuesta PAPA (ESP)
Vos decís “caos”. Está bien, es la crisis… ¿Sabés de dónde viene la palabra? Cuando se cosechaba el trigo, se va pasaba por una zaranda, se “cribaba”. Crisis – cribar. Y la crisis, en las personas, es eso: situaciones de la vida, acontecimientos, problemas orgánicos tuyos, o malhumor, o buen humor. Te hace cribar y vos tenés que elegir. Una vida sin crisis es una vida aséptica. ¿A vos te gusta tomar agua? ¿Te gusta? Si yo te doy agua destilada, vas a decir: “Es un asco”. Una vida sin crisis es como el agua destilada, no tiene sabor a nada, no sirve para nada, sino para guardarla en el ropero y cerrar la puerta. Las crisis hay que asumirlas, hay que asumirlas y resolverlas, porque quedarse en la crisis tampoco es bueno porque es un suicidio continuo. Es como un estar girando y girando, ¿no? Las crisis hay que caminarlas, hay que asumirlas y raramente solo. Y eso también es importante en el grupo de Scholas: caminar juntos para enfrentar crisis juntos, resolver cosas juntos y seguir adelante, crecer juntos… Y bueno, ¡adelante! Aunque sea para comer una feijoada…Pregunta 3 (POR)
Nestes dois últimos meses, trabalhamos muito para conseguir fazer o mural que viu lá fora. Mas, este mural, realmente representa o caos. O caos que, muitas vezes, quando o vivemos, e quando o vivemos de perto, não compreendemos e é uma grande confusão. Aparecem só linhas aleatórias. Mas, na verdade, é que chega um ponto em que nós nos distanciamos. E, nessa distância, começamos a conseguir ver formas, cores; começamos a conseguir ter um sentido neste caos, a conseguir a pensar mais do que aquilo que muitas vezes apenas vemos ou apenas sentimos, mas, sim, conseguimos expressá-lo. E, para mim, por exemplo, foi uma experiência muito grande porque também já vivi momentos de muito caos na minha vida – e acho que todos nós vivemos – e, a verdade é que, ao ouvir a história dos outros, estar verdadeiramente aberta para ouvir, para partilhar, para acolher todas estas pessoas que fizeram parte deste mural foi um privilégio para nós, acho que mais do que pra eles, pra nós que estamos aqui e facilitamos isso ter acontecido. E tudo isto porque buscamos esse sentido, e todos nós buscamos esse sentido profundo de perceber que é algo maior do que simplesmente estar aqui. E, então, queríamos perguntar-lhe […] enquanto passou, neste mural; o que sentiu, o que passou durante esta experiência até chegar aqui, ao coração, deste mural, e que realmente é simplesmente pra nós ou início ou o fim. Não sabemos. E, antes de responder, queríamos também, em nome de todos, oferecer-lhe um pincel. Este pincel que representa todos nós.
Respuesta PAPA (ESP)
Es lindo lo que decís del caos. Había alguien que decía que la vida del hombre, nuestra vida humana, es hacer del caos un cosmos, o sea, de lo que no tiene sentido, de lo desordenado, lo caótico, hacer un cosmos, con sentido, abierto, invitador, complessivo. Yo no quiero ponerme acá catequista, ¿no?, pero si vemos la estructura del relato de la Creación, que es un relato mítico, ¿no es cierto? En el sentido verdadero de la palabra “mito”, porque “mito” es un modo de conocimiento. Entonces, usa esa historia, el que escribió el relato de la Creación. Entre paréntesis, eso se escribió mucho después que el pueblo judío tuvo la experiencia de su liberación. O sea, primero es toda la experiencia del éxodo del pueblo judío y después miran hacia atrás. ¿Y cómo empezó la historia? ¿Cómo se transformó el caos en cosmos? Y ahí está 3 en un lenguaje poético cómo Dios, del caos un día hace la luz, otro día hace el hombre y va como creando cosas y transformando el caos en cosmos. Y en nuestra vida sucede lo mismo, eh: hay momentos de crisis -vuelvo a tomar la palabra-, que son caóticos, que vos no sabés dónde estás parado, y todos pasamos esos momentos, oscuros. Caos. Y ahí el trabajo personal de las personas que nos acompañan, de un grupo así, es transformar el cosmos. A mí me cuesta trabajo, en este caos de la Sixtina (risas), pensar que hay detrás un cosmos, porque el cosmos, ¿cuál es? Lo están armando ustedes en el mensaje que están llevando adelante, en el camino… No se olviden nunca esto: de un caos, transformar un cosmos. Y ese es el camino de cada uno, ¿no? Una vida que se queda en lo caótico es una vida fracasada y una vida que nunca sintió el caos es una vida destilada, todo perfecto, ¿no? Y las vidas destiladas no dan vida, se mueren en sí mismas. Es una vida que sintió la crisis como caos, que no entiende nada, y lentamente dentro de sí, y en la comunidad, fue transformando la vida personal o la vida relacional en un cosmos… Chapeau!
Una de las jóvenes de Scholas Ocurrentes, en español:
Muchas gracias, Papa Francisco, por tus palabras. Gracias.
Una joven en portugués: É uma alegria para nós concluir assim este caminho. Mas, apesar desta experiência terminar, gostaríamos de pensar que a obra realmente nunca termina. Por isso, hoje, vamos concluir, começando. E, assim, quando um caminho se fecha, um novo caminho se abre. Decidimos chamar este projeto 'Vida Entre Mundos'. De fato, todo o mural é uma experiência e uma expressão de vida que nasce do encontro de tantas realidades diferentes. Por isso, hoje, vamos dar um salto e reunir um mundo físico com um mundo virtual.
Una joven, en español: Vamos a pedirte, querido Francisco, que nos acompañes hasta la pared que tenés atrás, y nos regales la última pincelada de este mural, pero con un pincel muy particular, capaz de iniciar, al mismo tiempo, una misma obra virtual que va a conseguir reunir las diferentes comunidades de Scholas en todo el mundo.
José María del Corral [Presidente de Scholas Ocurrentes]: Papa, Papa Francisco, el video, el pincel este, virtual, del que hablaba Eugenia, es un arma para la paz. Parece una pistola porque vas a gatillar acá, pero, en vez de matar, con esta pincelada que vas a dar en la pared, también vas a estar dándola en el mundo virtual. En estos momentos, hay chicos de Scholas en Mozambique, que tienen puesto un artefacto, en Mozambique, en Tofo, para ver tu pincelada, que vas a hacer ahora, y seguirla en el mundo virtual, porque los jóvenes quieren que seas vos el que una el mundo físico con el mundo virtual para que el mundo virtual nunca deje de ser concreto y comprometido con la realidad.
PAPA: Este es el buen samaritano, y ninguno de nosotros está eximido de ser un buen samaritano. Es una obligación que todos tenemos. Cada uno tiene que buscarla en la vida, pero uno que termina su vida […] perdió como en la guerra. Resulta que el buen samaritano se encuentra a este tirado en el suelo, pero antes pasó un levita, pasó un sacerdote, y estaban apurados. No le dieron bolilla. Pero, además de que estaban apurados, no podían tocarlo porque había sangre […] Y, según la legislación de ese tiempo, el que tocaba la sangre quedaba impuro. No sé por cuánto tiempo se tenía que purificar, entonces eso le impedía cumplir sus deberes, no tocar… Morite, pero yo no te toco, impuro no me quedo. Morite, pero yo impuro no me quedo. No se olviden eso. ¡Cuántas veces puede pasar por nuestra mente: “Morite, pero yo impuro no me quedo”! ¡Cuántas veces se prefiere la “pureza ritual” a la cercanía humana! […] Los samaritanos, en la mentalidad de esa época, eran atorrantes, eran todos atorrantes y negociantes, no eran puros de mente, de corazón, eran marginados. Y este se para y lo ve y dice la historia que sintió compasión. “Morite, yo cuido mi pureza”. Sintió compasión. Les dejo la pregunta: ¿qué cosas a mí me hacen sentir compasión? ¿O vos tenés un corazón tan seco que ya no tiene compasión? Cada uno se responde. Y entonces, ¿qué sucede? Lo lleva a una posada y le consigue, en el hotel ahí, del pueblo ese, le consigue una pieza y le dice: “Mirá, yo voy a pasar dentro de tres días de vuelta”, le dice al hotelero. “Tomá, te pago esto y, si hace falta más, a la vuelta te lo pago”. Este atorrante era un buen pagador. Entonces, tenemos los ladrones que matan, el buen samaritano que lo cuida, el levita y el sacerdote que se van para no quedar impuros. Y Jesús dice: “En el Reino de los Cielos, este entra”, porque se movió a compasión. Piensen un poco en esta historia. ¿Dónde estoy yo acá? ¿Haciendo daño a la gente? ¿Dónde estoy yo acá? ¿Sacándole el cuerpo a las dificultades reales o me ensucio las manos? A veces, en la vida, hay que ensuciarse las manos para no ensuciar el corazón.
Una de las jóvenes, en español: Muchas gracias, querido Francisco, por tu regalo, una verdadera seña para seguir caminando juntos.
PAPA: Ahora les voy a dar la bendición, pero ustedes me prometen desearme bendición a mí después, y rezar y desear para que el Señor los bendiga.
PAPA: Recen por mí, y el que de ustedes no reza porque no puede o porque no se siente, mándeme buena onda, eso sí…
Queridos jovens, boa tarde!
Bem-vindos! Bem-vindos e obrigado por estardes aqui. Fico feliz por vos ver! E feliz fico também ao escutar o simpático barulho que fazeis, contagiando-me com a vossa alegria. É belo estarmos juntos em Lisboa: para aqui fostes chamados por mim, pelo Patriarca – a quem agradeço as palavras que me dirigiu –, pelos vossos Bispos, sacerdotes, catequistas, animadores. Agradeçamos a todos aqueles que vos chamaram e a quantos trabalharam para tornar possível este encontro: façamo-lo com uma grande salva de palmas! Mas foi sobretudo Jesus quem vos chamou; agradeçamos, pois, a Jesus com outra grande salva de palmas!
Vós não estais aqui por acaso. O Senhor chamou-vos, não só nestes dias, mas desde o início dos vossos dias. Chamou-nos a todos desde o início da vida. Chamou-vos pelos vossos nomes. Como ouvimos na Palavra de Deus, Ele chamou-nos pelo próprio nome. Chamados pelo nome: tentai imaginar estas três palavras escritas em letras grandes e, em seguida, pensai que estão escritas dentro de vós, nos vossos corações, como que formando o título da vossa vida, o sentido daquilo que sois. Tu foste chamado pelo teu nome: tu… além, tu… ali, tu… aqui, e também eu, todos nós fomos chamados pelo próprio nome. Não fomos chamados automaticamente, fomos chamados pelo nome. Pensemos nisto: Jesus chamou-me pelo meu nome. São palavras escritas no coração; pensemos, pois, que estão escritas dentro de cada um de nós, nos nossos corações, e formam uma espécie de título para a tua vida, o sentido do que és, o sentido daquilo que cada um é. Foste chamado pelo teu nome. Nenhum de nós é cristão por acaso, todos fomos chamados pelo nosso nome. Ao princípio da teia da vida, ainda antes dos talentos que possuímos, antes das sombras, das feridas que trazemos dentro de nós, recebemos um chamamento. Fomos chamados, porquê? Porque amados. Fomos chamados, porque somos amados. É belo! Aos olhos de Deus somos filhos preciosos, que Ele cada dia chama para abraçar, para encorajar; para fazer de cada um de nós uma obra-prima única, original. Cada um de nós é único e original, e não chegamos sequer a vislumbrar a beleza de tudo isto.
Queridos jovens, nesta Jornada Mundial da Juventude, ajudemo-nos mutuamente a reconhecer esta realidade; sejam estes dias ecos vibrantes da chamada amorosa de Deus, porque somos preciosos a seus olhos, apesar do que às vezes os nossos olhos veem; é que às vezes os nossos olhos estão enevoados pela negatividade e ofuscados por tantas distrações. Sejam dias em que o meu nome, o teu nome, através de irmãos e irmãs de muitas línguas, de muitas nações (vimos tantas bandeiras) que o pronunciam com amizade, ressoe como uma notícia única na história, porque único é o pulsar do coração de Deus por ti. Sejam dias para fixar no coração que somos amados como somos. Não como gostaríamos de ser, mas como somos agora. E este é o ponto de partida da JMJ, mas sobretudo o ponto de partida da vida. Jovens moços e moças, somos amados como somos, sem maquilhagem. Compreendeis isto?
E cada um de nós é chamado pelo nome. Não se trata de um simples modo de dizer, é Palavra de Deus (cf. Is 43, 1; 2 Tm 1, 9). Amigo, amiga, se Deus te chama pelo nome significa que, para Ele, nenhum de nós é um número; mas é um rosto, é uma cara, é um coração. Quero que cada um de vós note uma coisa: muitos, hoje, sabem o teu nome, mas não te chamam pelo nome. Com efeito, o teu nome é conhecido, aparece nas redes sociais, é processado por algoritmos que lhe associam gostos e preferências. Mas tudo isso não interpela a tua singularidade, mas a tua utilidade para pesquisas de mercado. Quantos lobos se escondem por trás de sorrisos de falsa bondade, dizendo que conhecem quem és, mas sem te querer bem, insinuando que creem em ti e prometendo que serás alguém, para depois te deixarem sozinho, quando já não lhes fores útil. E estas são as ilusões do mundo virtual e devemos estar atentos para não nos deixarmos enganar, porque muitas realidades que hoje nos atraem e prometem felicidade, mostram-se depois pelo que são: coisas vãs, bolas de sabão, coisas supérfluas, coisas inúteis e que deixam o vazio interior. Digo-vos uma coisa: Jesus não é assim, não é assim! Ele confia em ti, confia em cada um de vós, em cada um de nós, porque Jesus interessa-Se por cada um de nós; cada um de vós é importante para Ele. Assim é Jesus.E é por isso que nós, sua Igreja, somos a comunidade dos que são chamados; não somos a comunidade dos melhores, não! Somos todos pecadores, mas somos chamados assim como somos. Pensemos um pouco nisto, em nosso coração: somos chamados como somos, com os problemas que temos, com as limitações que temos, com a nossa alegria transbordante, com a nossa vontade de sermos melhores, com a nossa vontade de vencer. Somos chamados como somos. Pensai nisto: Jesus chama-me como eu sou, não como eu gostaria de ser. Somos comunidade de irmãos e irmãs de Jesus, filhos e filhas do mesmo Pai.
Amigos, quero ser claro convosco, que sois alérgicos à falsidade e às palavras vazias: na Igreja há espaço para todos. Para todos. Na Igreja, ninguém é de sobra. Nenhum está a mais. Há espaço para todos. Assim como somos. Todos. Jesus di-lo claramente. Quando manda os apóstolos chamar para o banquete daquele senhor que o preparara, diz: «Ide e trazei todos», jovens e idosos, sãos, doentes, justos e pecadores. Todos, todos, todos! Na Igreja, há lugar para todos. «Padre, mas para mim que sou um desgraçado, que sou uma desgraçada, também há lugar?» Há espaço para todos! Todos juntos… Peço a cada um que, na própria língua, repita comigo: «Todos, todos, todos». Não se ouve; outra vez! «Todos, todos, todos». E esta é a Igreja, a Mãe de todos. Há lugar para todos. O Senhor não aponta o dedo, mas abre os braços. É curioso! O Senhor não sabe fazer isto [aponta com o dedo em riste], mas isto sim [faz o gesto de abraçar]. Abraça a todos. No-lo mostra Jesus na cruz, onde abriu completamente os braços para ser crucificado e morrer por nós.
Jesus nunca fecha a porta, nunca. Mas convida-te a entrar: «entra e vê!» Jesus recebe, Jesus acolhe. Nestes dias cada um de nós transmite a linguagem do amor de Jesus. Deus te ama, Deus te chama. Que belo é isto! Deus ama-me, Deus chama-me. Quer que eu esteja perto d’Ele.Nesta tarde, vós também me fizestes perguntas, muitas perguntas. Nunca vos canseis de perguntar… Perguntar, é bom; aliás muitas vezes é melhor que dar respostas, porque quem pergunta permanece «inquieto» e a inquietude é o melhor remédio contra a rotina, que às vezes se torna uma espécie de normalidade que anestesia a alma. Cada um de nós traz dentro os próprios interrogativos. Levemos estas questões connosco e ponhamo-las no diálogo comum entre nós. Ponhamo-las quando rezamos diante de Deus. Com o transcorrer da vida, essas perguntas vão tendo resposta; só nos resta esperar. E uma coisa muito interessante: o amor de Deus surpreende-nos. Não está programado. O amor de Deus vem de surpresa. Surpreende sempre. Sempre nos mantém alerta e surpreende.
Queridos jovens moços e moças, convido-vos a pensar nesta coisa maravilhosa: Deus ama-nos! Deus ama-nos como somos, não como gostaríamos de ser ou como a sociedade queria que fôssemos. Como somos! Chama-nos com os defeitos que temos, com as limitações que temos e com a vontade que temos de avançar na vida. Deus chama-nos assim. Confiai, porque Deus é Pai e um Pai que nos quer bem, um Pai que nos ama. Isto nem sempre é muito fácil. Mas podemos contar com uma grande ajuda: a da Mãe do Senhor. Ela também é nossa Mãe. Maria é nossa Mãe.
E é tudo o que vos queria dizer. Não tenhais medo, tende coragem, continuai para diante, sabendo que, por «amortizador» das dificuldades, temos o amor que Deus nos tem. Deus amanos. Digamo-lo todos juntos: «Deus ama-nos». Mais alto, não consigo ouvir [repetem]. Aqui não se ouve [repetem] Obrigado. Adeus.
ARCIPRESTADO DE BENGUELA NORTE:
Pe. Zeferino Dulo Capoco – dispensado do Ofício de Administrador Paroquial de Nossa Senhora de Fátima
– Sé Catedral; sendo Colaborador - Ad Scriptum – na mesma Paróquia;
Pe. Feliciano Palanga – Pároco da Paróquia de Nossa Senhora de Fátima – Sé Catedral, sendo dispensado
do Ofício de Pároco de Nossa Senhora da Nazaré;
Pe. Arnaldo dos Prazeres Farinha – dispensado do Ofício de Director do Centro Sócio-Pastoral Dom
Armando Amaral dos Santos; continuando Colaborador - “Ad Scriptum” – Paróquia de Nossa Senhora de
Fátima – Sé Catedral, com a Residência Canónica na Sé Catedral, mantendo outros Ofícios;
Pe. Raimundo Quintas Alberto – Pároco de São João Baptista, Cassoco, continuando com os ofícios
anteriores;
Pe. Herman Kifinamene Matondo Kwazambi – dispensado do Ofício de Pároco da Paróquia de São José
– Damba Maria, sendo Colaborador - “Ad Scriptum” – da mesma Paróquia;
Pe. Nzunzi Bavenga Ricardo – Pároco de São José – Damba Maria, sendo dispensado do Ofício de Vigário
Paroquial da Paróquia de São João Paulo II do Lobito;
Diác. Marcelino Pedro Kambungue – Colaborador na Paróquia de São José – Damba Maria;
Pe. Domingos Manuel Celestino – Vigário Paroquial da Paróquia de Cristo Rei – Taka, sendo dispensado do ofício anterior;
Paróquia S. João Maria Vianney sob cuidado pastoral dos Padres Redemptoris Mater – Fidei Donum da
Arquidiocese de Luanda
Pe. Juan Francisco Midence Gómez – Pároco, com residência Canónica na casa da Pastoral da Criança;
Pe. Maurício Adelino Gomes – Colaborador - “Ad Scriptum” – em São João Maria Vianney;
Pe. Bernardino Muteca Ndjai Nguelengue - Colaborador - “Ad Scriptum” – em São João Maria Vianney;
Pe. Jesus Évora da Silva – Vigário Paroquial da Paróquia de Santa. Mónica – Kapyandalu, sendo dispensado
do ofício anterior;
Pe. Júlio Kamoli Jorge – Vigário Paroquial da Paróquia de São Martinho de Lima – Calomburaco, sendo
dispensado do ofício anterior;
ARCIPRESTADO DE BENGUELA SUL:
Pe. Lino Tanga – Pároco da Missão Nossa Senhora de Nazaré, sendo dispensado do ofício de Pároco da
Paróquia Sagrado Coração de Jesus, Catumbela;
Pe. Fernando Hossi Faustino – Vigário Paroquial da Missão Nossa Senhora de Nazaré, sendo dispensado
do ofício de Pároco da Paróquia de Nossa Senhora Rainha da Paz;
Pe. Sebastião Tchipinda – Vigário Paroquial de São Domingos Sávio, sendo dispensado do ofício anterior;
Pe. Domingos Graciano Kakepa – Vigário Paroquial da Quase – Paróquia de Cristo Rei – Mira-Mar, sendo
dispensado do ofício de Director Diocesano da Rádio Eclésia, com residência Canónica na mesma
Paróquia;
Pe. Fernando Paulo da Costa – Colaborador - “Ad Scriptum” – Quase – Paróquia de Cristo Rei, Mira-Mar
continuando com os ofícios anteriores;
Pe. Domingos Katanganha – Vigário Paroquial da Paróquia de São Pedro – Baía-Farta, sendo dispensado
do ofício de Pároco da Paróquia de São João Maria Vianney;
Pe. Daniel Gomes Nunda – Colaborador - “Ad Scriptum” – Paróquia de Santa Josefina Bakhita no Centro
São João Baptista, continuando com os ofícios anteriores;
Pe. Isaías Kakolyo Ndjaka – Pároco de Rainha da Paz, continuando com o Ofício de Arcipreste do
Arciprestado de Benguela Sul;
Pe. Barnabé Munda – Administrador do Centro “Bom Pastor”, com residência Canónica na Paróquia da
Rainha da Paz, sendo dispensado do ofício anterior;
Paróquia S. João Paulo II – Benguela, Sob Cuidado Pastoral dos Missionários pertencentes a Comunidade Obra de Maria - Provisão temporária do actual Pároco (até a chegada dos Missionários);
Pe. José Salikeva – Colaborador - “Ad Scriptum” – Paróquia de São João Paulo II, Benguela, continuando
com os Ofícios anteriores;
Proposta de Criação do Centro Pastoral Nossa Senhora do Carmo - Utomba/Bimbas (O Centro Pastoral
de Cristo Rei do Utomba será alterado para Centro Pastoral Nossa Senhora do Carmo) a ser desmembrado
da Paróquia de Santa Josefina Bakhita e reconfirmar os Reverendíssimos Senhores Padres:
Pe. Domingos Vissimilo Sapunga, confirmar como Responsável, com autonomia na administração do
referido Centro;
Pe. Paulo Ramiro Nasu – confirmar como Colaborador - “Ad Scriptum” - do referido Centro Pastoral;
ARCIPRESTADO DO LOBITO NORTE:
Pe. Isaac Capoco Sambanda – Vigário Paroquial de São João Paulo II, Lobito, sendo dispensado do Ofício
anterior;
Pe. António Lilunga Tchivava – Vigário Paroquial de São Paulo, Bela – Vista, Lobito;
ARCIPRESTADO DO LOBITO SUL:
Pe. José Adriano Ukwatchali – dispensado do Ofício de Pároco da Paróquia de Nossa Senhora da Arrábida,
sendo Colaborador - “Ad Scriptum” – na mesma Paróquia; continuando com os ofícios anteriores;
Pe. Francisco Matias – Pároco de Nossa Senhora da Arrábida, sendo dispensado do Ofício de Vigário
Paroquial da Paróquia de Nossa Senhora da Nazaré;
Pe. Constantino Hembe - dispensado do Ofício de Pároco da Paróquia do Sagrado Coração de Jesus, Vinte
e Oito – Zona Comercial, Lobito; sendo Colaborador – Ad Scriptum – Paróquia da Santíssima Trindade;
Pe. Geraldo Kalemesa – Pároco da Paróquia do Sagrado Coração de Jesus, vinte e oito – Zona Comercial,
Lobito;
Pe. Adolfo Castro Ukweyeka – Vigário Paroquial da Paróquia do Sagrado Coração de Jesus, vinte e oito –
Zona Comercial, Lobito; dispensado dos Ofícios anteriores;
Pe. Geraldo Amândio Ngunga – Pároco da Paróquia do Sagrado Coração de Jesus, Catumbela, sendo
dispensado do Ofício de Pároco da Paróquia de São João Baptista do Cassoco;
Pe. Zeferino J. Alfredo – Vigário Paroquial da Paróquia do Sagrado Coração de Jesus, Catumbela, sendo
dispensado do Ofício anterior;
Pe. Filipe Justino Sakupalika Kamingenge – Colaborador - “Ad Scriptum” – Paróquia de Nossa Senhora da
Luz, sendo dispensado do Ofício anterior;
Diác. Henrique Vinombili Januário – Colaborador da Paróquia de Sáo José da Caponte, Lobito;
Pe. João Evangelista Cornélio – Vigário Paroquial da Paróquia de São Pedro do Liro, sendo dispensado do
ofício de Pároco da Paróquia de Nossa Senhora do Rosário, Bocoio;
ARCIPRESTADO DO CUBAL
Pe. Alfredo Kapanga – Vigário Paroquial do Sagrado Coração de Jesus, Cubal, sendo dispensado do Ofício
de Pároco da Paróquia de São Lucas, Tchindjendje;
Diác. António Sayendo Kapaya Catali – mantém colaboração na Paróquia do Sagrado Coração de Jesus,
Cubal;
Teólogo Vasco Mário Joaquim da Silva – estágio na Paróquia do Sagrado Coração de Jesus, Cubal;
Pe. Alexandre Batalha – Pároco da Paróquia de São Francisco de Assis – Caimbambo, sendo dispensado
do Ofício anterior;
Pe. Mateus Waya Soma – Vigário Paroquial da Paróquia de São Francisco de Assis, Caimbambo, sendo
dispensado do Ofício de anterior;
Diác. Élcio Paulo Lassola – Colaborador da Paróquia de São Francisco de Assis, Caimbambo;
Pe. Albino Soma Ndangala – Vigário Paroquial da Missão Sagrada Família, Caimbambo; sendo dispensado
do Ofício de anterior;
Diác. Graciano Umwahimba Joni Nhenga – Colaborador da Missão Sagrada Família, Caimbambo;
ARCIPRESTADO DA GANDA
Pe. Isaac Augusto Baptista – Pároco da Paróquia do Sagrado Coração de Jesus, Kawanga, sendo
dispensado do Ofício anterior;
Pe. Mário Kalei Tchimboto – Vigário Paroquial da Paróquia do Sagrado Coração de Jesus, Kawanga, sendo
dispensado do Ofício de anterior;
Diác. Luciano Kangala Tchitumba – Colaborador da Paróquia do Sagrado Coração de Jesus, Kawanga;
Diác. João Quintino Tchipala Tiago - Colaborador da Paróquia de São João Baptista, Ganda;
Pe. Alberto Marculino Ndala – Pároco da Missão de Nossa Senhora da Apresentação, Chicuma/kapuso,
sendo dispensado do Ofício anterior;
Pe. Tarcísio Tchiheke Prego – Vigário Paroquial da Missão de Nossa Senhora da Apresentação,
Chicuma/kapuso;
Diác. Pedro Tchinamba Praia – Colaborador da Missão de Nossa Senhora de Apresentação,
Chicuma/kapuso;
Pe. Angelino Manuel kalundindi – Vigário Paroquial da Paróquia do Santíssimo Nome de Maria
Chicuma/Kasipera, sendo dispensado do Ofício anterior;
Diác. Higino Satwala Kassinda – Colaborador da Paróquia do Santíssimo Nome de Maria
Chicuma/Kasipera;
Pe. António Sapalo Pessela – Pároco da Paróquia de São Lucas, Tchindjendje, sendo dispensado do Ofício
de Pároco da Paróquia de São Francisco de Assis, Caimbambo;
Pe. Avelino Bento Ukwandimba – Vigário Paroquial da Paróquia de São Lucas, Tchindjendje, sendo
dispensado do Ofício anterior;
Diác. Graciano Nguaia Katchindele – Colaborador da Paróquia de São Lucas, Tchindjendje;
Pe. António Kulembe Luhuim – Vigário Paroquial da Paróquia de Nossa Senhora da Conceição, Alto
Catumbela, sendo dispensado doOfício anterior;
Pe. Sebastião Tchitekulu – Colaborador – “Ad Scriptum” – Paróquia de Nossa Senhora da Conceição, Alto
Catumbela, dispensado do Oficio anterior;
ARCIPRESTADO DO BALOMBO
Pe. Sabino André Lukamba Mbambi – Pároco da Paróquia de Nossa Senhora do Rosário, Bocoio, sendo
dispensado do Ofício anterior;
Pe. Tomás José Chimuco Candeeiro – Vigário Paroquial da Paróquia de Nossa Senhora do Rosário, Bocoio;
Diác. Alberto Soma Capitango Pedro – Colaborador da Paróquia de Nossa Senhora do Rosário, Bocoio;
Pe. Faustino Felo - Vigário Paroquial da Missão Nossa Senhora de Fátima, Bocoio; sendo dispensado do
Ofício anterior;
Pe. Inácio Lukunde Kamati – Pároco da Paróquia e da Missão de Nossa Senhora Rainha da Paz, Chila,
Bocoio;
Pe. Teodoro Kamati Jongo – Vigário Paroquial da Paróquia e da Missão de Nossa Senhora Rainha da Paz,
Chila, Bocoio;
Diác. Pedro Kanuela Calondo – Colaborador da Quase – Paróquia de São Francisco Xavier, Passe;
Pe. Manuel Kalemba – Administrador do Centro Pastoral Bom Pastor - Chingongo e com residência
canónica na Paróquia de São João Paulo II – Lobito; sendo dispensado do Ofício anterior;
Paróquia-Missão Coração Imaculado de Maria - Ndjinga - Passa para os Missionários do Espírito Santo
“Padres Espiritanos” – Os padres nomeados assistirão a missão até ao dia 2 de fevereiro de 2024:
Pe. Teodoro Kamati Jongo – da Chila – “Ad Scriptum”
Pe. Ezequiel Kapupa Tchiyangalala – Ad scriptum (Missionário em cabo-Verde)
SEMINÁRIO MAIOR DO BOM PASTOR
Pe. Miguel kapembe kangwe – dispensado do Ofício que exercia no Seminário de Filosofia;
Pe. Fabiano Germano Kamati Paquete – Prefeito de Disciplina do Seminário Maior do Bom Pastor, Secção
de Filosofia;
Diác. Martinho Kavipa Kanivete – Ecónomo do Seminário Maior do Bom Pastor, Secção de Teologia;
CÚRIA DIOCESANA
Pe. Amadeu Rafael Dungu – confirmar por este Decreto a data da nomeação de Assistente do
Secretariado Diocesano da Juventude, no dia 26 de abril de 2023;
Diác. Gabriel Domingos António – Colaborador da Obra da Rua do Padre Américo, Gaiato;
Pe. Maurício Adelino Gomes – Vice - Ecónomo da Diocese de Benguela e
Director do Centro SócioPastoral Dom Armando Amaral dos Santos, sendo dispensado do Ofício anterior;
Pe. Aurio Eridson Manuel da Graça – Secretário do Bispo da Diocese;
Pe. Gabriel Marcos – dispensado do Ofício de Director da Cáritas da Diocese de Benguela, mantendo
outros Ofícios;
Pe. Eduardo Bento - Director da Cáritas da Diocese de Benguela, continuando com o Ofício de Pároco
Paróquia de São José da Caponte;
Pe. Bantu Mendonça Katchipwi Sayla – Director Diocesano da Rádio Eclésia, Com residência Canónica na
Casa da Rádio Eclesia, sendo dispensado do Ofício de Vigário Paroquial da Paróquia de Nossa Senhora de
Fátima, Sé catedral; Colaborador - “Ad Scriptum” – Paróquia de Nossa Senhora de Fátima – Sé Catedral;
TRAPA – CASA DE ESPIRITUALIDADE
Pe. Moisés João Tchilumbo
ENVIO DE SACERDOTES
PARA DIOCESE DE VISEU, PORTUGAL
Pe. Hermenegildo Pereira Pedro – Portugal
Pe. Constantino Hembe – Portugal
Pe. Miguel Ndunde – Portugal
CABO-VERDE
Pe. Filipe Justino Sakupalika Kamingenge– Cabo-Verde
Pe. Ezequiel Kapupa Tchiyangalala Celestino – Cabo-Verde
PARA ESTUDAR EM ROMA
Pe. António Katiavala Sandeno Tonecas
Todos os que foram nomeados devem tomar posse dos seus novos ofícios de missão até ao 1º Domingo de Advento, com excepção dos que estarão em Paróquias que aguardam os missionários.
Dado em Benguela, sob o selo da nossa Cúria, aos 13 de Outubro de 2023, na Festa da Dedicação da Sé Catedral da Diocese de Benguela.
Queridos irmãos e irmãs, bom dia!
Agradeço ao pároco as suas palavras, e saúdo a todos os presentes, em particular aos amigos do Centro Paroquial da Serafina, da Casa Família Ajuda de Berço e da Associação Acreditar. E agradeço as vossas palavras que ilustraram o trabalho que aqui se faz. Obrigado! É bom estarmos aqui juntos no contexto da Jornada Mundial da Juventude, enquanto olhamos para a Virgem que Se levanta para ir ajudar. De facto, a caridade é a origem e a meta do caminho cristão, e a vossa presença, realidade concreta de «amor em ação», ajuda-nos a não esquecer a rota, o sentido daquilo que sempre estamos a fazer. Obrigado pelos vossos testemunhos, dos quais quero destacar três aspetos: fazer juntos o bem, agir no concreto e estar próximo dos mais frágeis. Por outras palavras, fazer o bem juntos, agir concretamente, isto é, não só com ideias mas concretamente, estar perto dos mais frágeis.
Primeiro, fazer juntos o bem. «Juntos» é a palavra-chave, que foi repetida muitas vezes nas intervenções. Viver, ajudar e amar juntos: jovens e adultos, sãos e doentes… juntos. O João disse-nos uma coisa importante: é preciso não se deixar «definir» pela doença, mas fazer dela parte viva do contributo que prestamos ao conjunto da comunidade. É verdade! Não devemos deixar-nos «definir» pela doença ou pelos problemas, porque não somos uma doença, não somos um problema. Cada um de nós é um presente, é um dom único, com os seus limites mas um dom precioso e sagrado para Deus, para a comunidade cristã e para a comunidade humana. E, assim como somos, enriquecemos o conjunto e deixamo-nos enriquecer pelo conjunto!
Segundo, agir no concreto. Também isto é importante. Como nos recordou o padre Francisco, inspirando-se em São João XXIII, a Igreja «não é um museu de arqueologia – alguns imaginamna assim, mas não o é –; a Igreja é o antigo fontanário da aldeia que fornece água à geração de hoje» (São João XXIII, Homilia depois da Missa eslavo-bizantina, 13/XI/1960) como às futuras gerações. O fontanário serve para matar a sede das pessoas que chegam com o peso da viagem ou da vida, na sua dimensão concreta. Por conseguinte é necessária concretização, atenção ao «aqui e agora», como aliás já fazeis com o cuidado dos pormenores e sentido prático, belas virtudes típicas do povo português.
Quando não se perde tempo a lamentar-se da realidade, mas se tem a preocupação de ir ao encontro das carências concretas, com alegria e confiança na Providência, acontecem coisas maravilhosas. Assim o testemunha a vossa história: do encontro com o olhar de um idoso na rua, nasce um centro de caridade «de todo o respeito», como este em que nos encontramos; de um desafio moral e social qual é a «campanha pela vida», nasce uma associação que ajuda grávidas e sua família, crianças, adolescentes e jovens em dificuldade, para encontrarem um projeto de vida seguro, como nos contou Sandra; da experiência da doença nasce uma comunidade de apoio a quem luta contra o cancro, especialmente crianças, de modo que «os progressos no tratamento e a melhor qualidade de vida se tornem realidade para eles», como nos disse o João. Obrigado pelo que fazeis! Continuai com mansidão e gentileza a deixar-vos interpelar pela realidade, com as suas pobrezas antigas e novas, e a responder de forma concreta, com criatividade e coragem.O terceiro aspeto: estar próximo dos mais frágeis. Todos somos frágeis e necessitados, mas o olhar feito de compaixão, próprio do Evangelho, leva-nos a ver as necessidades de quem mais precisa. Leva-nos a servir os pobres, os prediletos de Deus que Se fez pobre por nós (cf. 2 Cor 8, 9): os excluídos, os marginalizados, os descartados, os humildes, os indefesos. São eles o tesouro da Igreja, são os preferidos de Deus! E recordemo-nos sempre de não estabelecer diferenças entre eles; de facto, para um cristão, não há preferências face a quem, necessitado, bate à nossa porta: compatriotas ou estrangeiros, pertencentes a este ou àquele grupo, jovens ou idosos, simpáticos ou antipáticos...
A propósito de caridade, quero agora contar-vos uma história, especialmente a vós, crianças, que talvez não conheçais. É a história real dum jovem português que viveu há muito tempo. Chamava-se João Cidade e habitava em Montemor-o-Novo. Sonhava com uma vida aventureira; por isso, adolescente ainda, partiu de casa à procura da felicidade. Achou-a depois de vários anos e muitas aventuras, quando encontrou Jesus. E ficou tão contente com a descoberta que até decidiu mudar o nome, chamando-se a partir de então, não João Cidade, mas João de Deus. E fez uma coisa ousada: foi pela cidade e começou a pedir esmola pelas ruas, dizendo às pessoas: «Fazei bem, irmãos, a vós mesmos!» Compreendeis? Pedia a esmola, mas dizia a quantos lha davam que, ajudando-o a ele, na realidade estavam a ajudar primariamente a si próprios! Ou seja, explicava que os gestos de amor são um dom primariamente para quem os cumpre, antes mesmo de o serem para quem os recebe; porque tudo o que se acumula para si mesmo perder-se-á, enquanto aquilo que se dá por amor nunca se desperdiça, mas será o nosso tesouro no céu.
Por isso dizia: «Fazei bem, irmãos, a vós mesmos!» Porém o amor não torna felizes só no céu, mas já aqui na terra, porque dilata o coração e permite abraçar o sentido da vida. Se queremos ser verdadeiramente felizes, aprendamos a transformar tudo em amor, oferecendo aos outros o nosso trabalho e o nosso tempo, dizendo palavras edificantes e realizando boas ações, mesmo com um sorriso, com um abraço, com a escuta, com o olhar. Queridos adolescentes, irmãos e irmãs, vivamos assim! Todos podemos fazê-lo e disto mesmo todos precisamos, aqui e em qualquer lugar do mundo.Sabeis o que aconteceu depois a João? Não o entenderam! Pensavam que estava maluco e fecharam-no num manicómio. Mas ele não se desmoralizou, porque o amor não se arrende e quem segue Jesus não perde a paz nem se põe a lamentar a sua sorte. E foi precisamente lá, no manicómio, carregando a cruz, que chegou a inspiração de Deus. João deu-se conta de quanto aqueles doentes precisavam de ajuda e, quando finalmente o deixaram sair, depois de alguns meses, começou a cuidar deles com outros companheiros, fundando uma Ordem Religiosa: os Irmãos Hospitaleiros. Alguns, porém, começaram a designá-los doutro modo, ou seja, com as palavras «fazei bem, irmãos…» que aquele jovem ia repetindo a todos. Assim são chamados em Roma: Fatebenefratelli. É um belo nome, e um ensinamento importante! Ajudar os outros é um dom para si próprio e faz bem a todos. É verdade! Amar é um dom para todos! Recordemo-nos: o amor é um presente para todos! Vamos repetir juntos: «o amor é um presente para todos»!
Amemo-nos assim! Continuai a fazer da vida um presente de amor e de alegria. Fico-vos grato e recomendo a todos, mas especialmente às crianças: continuai a rezar por mim. Obrigado!
Palavras improvisadas
Há muitas coisas que gostaria de vos dizer agora, mas os meus «holofotes» [os olhos] – acontece – não estão a funcionar como deviam e não consigo ler bem. Por isso entrego-vos o discurso para o publicardes depois. Não se pode forçar a vista e ler mal.
Quero deter-me apenas em algo que não está escrito, mas está no espírito do encontro: a concretização. Não existe amor abstrato; não existe! O amor platónico vive em órbita, não está na realidade. Real é o amor concreto, aquele em que se sujam as mãos. Cada um de nós pode perguntar-se: o amor que sinto por todos aqueles que estão aqui, o amor que sinto pelos outros, é concreto ou abstrato? Depois de estenderes a mão a uma pessoa necessitada, a um doente, a um marginalizado… fazes logo assim [esfrega a mão na roupa] para não te contagiar? Enoja-me a pobreza, a pobreza dos outros? Procuro sempre a vida «destilada», a vida que existe na minha fantasia, não na realidade? Quantas vidas destiladas, inúteis que passam sem deixar uma marca, porque tais vidas não têm peso!
E aqui temos uma realidade que deixa uma marca, uma realidade de muitos anos, tantos anos, que vai deixando uma marca que serve de inspiração para os outros. Não poderia haver uma Jornada Mundial da Juventude sem ter em conta esta realidade. Porque também isto é juventude, no sentido de que vós gerais continuamente vida nova. Com a vossa conduta, o vosso empenho, as vossas mãos sujas por tocarem a realidade da miséria dos outros, estais a gerar inspiração, estais a gerar vida. Obrigado por isso! Agradeço-vos de todo o coração. Continuai para diante e não desanimeis! E se desanimardes, bebei um copo de água e segui para a frente!
Catequeses. A paixão pela evangelização: o zelo apostólico do crente. 23. São Charles de Foucauld, coração pulsante de caridade na vida oculta
Estimados irmãos e irmãs, bom dia!
Prossigamos o nosso encontro com alguns cristãos, testemunhas ricas de zelo no anúncio do Evangelho. O zelo apostólico, o zelo pelo anúncio: passamos em revista alguns cristãos que foram exemplos deste zelo apostólico. Hoje gostaria de vos falar de um homem que fez de Jesus e dos irmãos mais pobres a paixão da própria vida. Refiro-me a São Carlos de Foucauld que, «partindo da sua intensa experiência de Deus, percorreu um caminho de transformação até se sentir irmão de todos» (Carta Encíclica Fratelli tutti, 286).
E qual era o “segredo” de Carlos de Foucauld, da sua vida? Depois de ter vivido uma juventude longe de Deus, sem acreditar em nada, a não ser na busca desordenada do prazer, ele confia-o a um amigo não crente, a quem, depois de se ter convertido aceitando a graça do perdão de Deus na Confissão, revela a razão da sua vida. Escreve: «Perdi o meu coração por Jesus de Nazaré».[1] Assim, o irmão Carlos recorda-nos que o primeiro passo para evangelizar é ter Jesus dentro do coração, é “perder a cabeça” por Ele. Se isso não acontecer, dificilmente conseguiremos mostrá-lo com a vida. Ao contrário, corremos o risco de falar de nós próprios, do nosso grupo de pertença, de uma moral ou, pior ainda, de um conjunto de regras, mas não de Jesus, do seu amor, da sua misericórdia. Vejo isto nalguns movimentos novos que surgem: falam da sua visão da humanidade, falam da sua espiritualidade e sentem-se um caminho novo... Mas por que não falais de Jesus? Falam de muitas coisas, de organização, de caminhos espirituais, mas não sabem falar de Jesus. Penso que hoje seria bom que cada um de nós se perguntasse: tenho Jesus no centro do coração? Perdi um pouco a cabeça por Jesus?
Carlos sim, a ponto de passar da atração por Jesus à imitação de Jesus. Aconselhado pelo seu confessor, vai à Terra Santa para visitar os lugares onde o Senhor viveu e para caminhar onde o Mestre caminhou. Em particular, em Nazaré compreende que deve formar-se na escola de Cristo. Vive uma relação intensa com o Senhor, passa longas horas a ler os Evangelhos e sente-se como o seu irmão mais novo. E, conhecendo Jesus, brota nele o desejo de o dar a conhecer. Acontece sempre assim: à medida que cada um de nós conhece mais Jesus, nasce o desejo de o dar a conhecer, de compartilhar este tesouro. Comentando a narração da visita de Nossa Senhora a Santa Isabel, leva-o a dizer: «Ofereci-me ao mundo... levai-me ao mundo!». Sim, mas como o fazer? Como Maria, no mistério da Visitação: «Em silêncio, com o exemplo, com a vida».[2] Com a vida, porque «toda a nossa existência, escreve o irmão Carlos, deve gritar o Evangelho». [3] E muitas vezes a nossa existência grita mundanidade, grita tantas coisas estúpidas, coisas estranhas, e ele diz: “Não, toda a nossa existência deve gritar o Evangelho”.
Então, ele decide estabelecer-se em regiões longínquas para gritar o Evangelho no silêncio, vivendo no espírito de Nazaré, em pobreza e escondimento. Vai para o deserto do Sahara, entre os não-cristãos, e chega lá como amigo e irmão, levando a mansidão de Jesus-Eucaristia. Carlos deixa Jesus agir silenciosamente, convencido de que a “vida eucarística” evangeliza. Sim, acredita que Cristo é o primeiro evangelizador. Assim, permanece em oração aos pés de Jesus, diante do tabernáculo, aproximadamente dez horas por dia, convicto de que aí reside a força evangelizadora e sentindo que Jesus o aproxima de numerosos irmãos distantes. E nós, pergunto-me, acreditamos na força da Eucaristia? O nosso ir ao encontro dos outros, o nosso serviço, encontra aí, na adoração, o seu início e o seu cumprimento? Estou convencido de que perdemos o sentido da adoração; devemos recuperá-lo, a começar por nós, consagrados, bispos, sacerdotes, religiosas e todos os consagrados. “Perder” tempo diante do tabernáculo, recuperar o sentido da adoração.
Carlos de Foucauld escreveu: «Cada cristão é apóstolo»,[4] recordando a um amigo que «ao lado dos sacerdotes, são necessários leigos que vejam o que o presbítero não vê, que evangelizem com proximidade de caridade, com bondade para com todos, com afeto sempre pronto a entregar-se».[5] Leigos santos, não carreiristas. E aqueles leigos, aquele leigo, aquela leiga que se apaixonaram por Jesus levam o sacerdote a compreender que não é um funcionário, que ele é um mediador, um sacerdote. Quanto precisamos nós, sacerdotes, de ter ao nosso lado estes leigos que acreditam seriamente e que, com o seu testemunho, nos ensinam o caminho. Com esta experiência, Carlos de Foucauld antecipa os tempos do Concílio Vaticano II, intui a importância dos leigos e compreende que o anúncio do Evangelho compete a todo o povo de Deus. Mas como podemos aumentar esta participação? Como fez Carlos de Foucauld: pondo-nos de joelhos e aceitando a ação do Espírito, que suscita sempre novos modos de participação, encontro, escuta e diálogo, sempre em colaboração e confiança, sempre em comunhão com a Igreja e com os pastores.
São Carlos de Foucauld, figura que é profecia para o nosso tempo, deu testemunho da beleza de comunicar o Evangelho através do apostolado da mansidão: ele, que se sentia “irmão universal” e acolhia todos, mostra-nos a força evangelizadora da mansidão, da ternura. Não esqueçamos que o estilo de Deus reside em três palavras: proximidade, compaixão e ternura. Deus está sempre próximo, é sempre compassivo, sempre terno. E o testemunho cristão deve seguir este caminho: de proximidade, de compaixão, de ternura. E ele era assim, manso e terno. Desejava que quantos o encontrassem vissem, através da sua bondade, a bondade de Jesus. Com efeito, dizia que era «servo de alguém que é muito melhor do que eu».[6] Viver a bondade de Jesus levava-o a criar laços fraternos de amizade com os pobres, com os Tuaregues, com os mais distantes da sua mentalidade. Aos poucos, esses vínculos geravam fraternidade, inclusão, valorização da cultura do outro. A bondade é simples e pede que sejamos pessoas simples, sem medo de oferecer um sorriso. E com o sorriso, com a sua simplicidade, o irmão Carlos dava testemunho do Evangelho. Nunca proselitismo, nunca: testemunho. A evangelização não se faz por proselitismo, mas por testemunho, por atração. Concluindo, perguntemo-nos então se trazemos em nós e levamos aos outros a alegria cristã, a mansidão cristã, a ternura cristã, a compaixão cristã, a proximidade cristã. Obrigado!
Dom António Francisco jaca, Bispo da Diocese de Benguela, celebrou nesta sexta- feira, mais um aniversário natalício. A missa foi celebrada na Paróquia da Sé- Catedral pelo Senhor Arcebispo Dom Manuel Imbamba. Ladearam os Senhores Bispos António Francisco Jaca e Dom Kiala. Esteve também presente Dom Estêvão Binga, Bispo Auxiliar da nossa Diocese. Rezemos e celebremos esta festa com o nosso Pai Diocesano.
Natal dos doentes
Decorreu neste Sábado 23 de Dezembro, o Natal do doente no Hospital
Papa diz que é tempo de " caminho novo" para a Igreja
O Papa disse neste quarta-feira...
Tomada de posse do novo Pároco na Catedral de Benguela
bendito do meu Pai...
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Nomeações gerais da nossa Igreja Diocesana de Benguela
Dom António Francisco...
Queridos irmãos e irmãs, feliz Natal!
O olhar e o coração dos cristãos de todo o mundo estão voltados para Belém; lá, onde nestes dias reinam a dor e o silêncio, ressoou o anúncio esperado há séculos: «Nasceu-vos um Salvador, que é o Messias Senhor» (Lc 2, 11). Trata-se das palavras do anjo no céu de Belém, que são dirigidas também a nós. Enche-nos de confiança e esperança saber que o Senhor nasceu para nós; que a Palavra eterna do Pai, o Deus infinito, fixou a sua morada entre nós. Fez-Se carne, veio «habitar connosco» (Jo 1, 14): esta é a notícia que muda o curso da história!
O anúncio de Belém é o anúncio duma «grande alegria» (Lc 2, 10). Qual alegria? Não a felicidade passageira do mundo, nem a alegria da diversão, mas uma alegria «grande» porque nos faz «grandes». De facto hoje nós, seres humanos, com as nossas limitações, abraçamos a certeza duma esperança inaudita: a esperança de termos nascido para o Céu. Sim, Jesus nosso irmão veio fazer do Seu Pai o nosso Pai: Menino frágil, revela-nos a ternura de Deus e muito mais… Ele, o Unigénito do Pai, dá aos homens o «poder de se tornarem filhos de Deus» (Jo 1, 12). Eis a alegria que consola o coração, renova a esperança e dá a paz: é a alegria do Espírito Santo, a alegria de ser filhos amados.
Irmãos e irmãs, hoje em Belém, por entre as trevas da terra, acendeu-se esta chama inextinguível; hoje, sobre as trevas do mundo, prevalece a luz de Deus, que «a todo o homem ilumina» (Jo 1, 9). Irmãos e irmãs, alegremo-nos por esta graça! Alegra-te, tu que te vês falho de confiança e de certezas, porque não estás sozinho, não estás sozinha: Cristo nasceu para ti! Alegra-te, tu que perdeste a esperança, porque Deus te estende a mão: não aponta o dedo contra ti, mas oferece-te a sua mãozinha de Menino para te libertar dos medos, aliviar-te das canseiras e mostrar-te que, aos olhos d’Ele, vales mais do que qualquer outra coisa. Alegra-te, tu que tens a paz no coração, porque se cumpriu para ti a antiga profecia de Isaías: «Um menino nasceu para nós, um filho nos foi dado (…) e o seu nome é: (…) Príncipe da paz» (9, 5). A Sagrada Escritura revela que a sua paz, o seu reino «não terá fim» (9, 6).
Na Bíblia, ao Príncipe da paz opõe-se o «príncipe deste mundo» (Jo 12, 31), que, semeando a morte, atua contra o Senhor, «amante da vida» (Sab 11, 26). Vemo-lo atuar em Belém, quando, depois do nascimento do Salvador, se verifica a matança dos inocentes. Quantas matanças de inocentes no mundo! No ventre materno, nas rotas dos desesperados à procura de esperança, nas vidas de muitas crianças cuja infância é devastada pela guerra. São os pequeninos Jesus de hoje, estas crianças cuja infância é devastada pela guerra, pelas guerras.
Deste modo dizer «sim» ao Príncipe da paz significa dizer «não» à guerra. E isto com coragem: dizer «não» à guerra, a toda a guerra, à própria lógica da guerra, que é viagem sem destino, derrota sem vencedores, loucura indesculpável. Isto é a guerra: viagem sem destino, derrota sem vencedores, loucura indesculpável. Mas, para dizer «não» à guerra, é preciso dizer «não» às armas. Com efeito, se o homem, cujo coração é instável e está ferido, encontrar instrumentos de morte nas mãos, mais cedo ou mais tarde usá-los-á. E como se pode falar de paz, se cresce a produção, a venda e o comércio das armas? Hoje, como no tempo de Herodes, as conspirações do mal, que se opõem à luz divina, movem-se à sombra da hipocrisia e do escondimento. Quantos massacres armados acontecem num silêncio ensurdecedor, ignorados de tantos! O povo, que não quer armas mas pão, que tem dificuldade em acudir às despesas quotidianas, ignora quanto dinheiro público é destinado a armamentos. E, contudo, devia sabê-lo! Fale-se disto, escreva-se sobre isto, para que se conheçam os interesses e os lucros que movem os cordelinhos das guerras.
Isaías, que profetizara o Príncipe da paz, deixou escrito que virá um dia em que «uma nação não levantará a espada contra outra»; um dia em que os homens «não se adestrarão mais para a guerra», mas «transformarão as suas espadas em relhas de arado, e as suas lanças em foices» (2, 4). Com a ajuda de Deus, esforcemo-nos para que se aproxime esse dia!
Aproxime-se em Israel e na Palestina, onde a guerra abala a vida daquelas populações. A todas abraço, em particular às comunidades cristãs de Gaza – à paróquia de Gaza – e de toda a Terra Santa. Trago no coração a dor pelas vítimas do execrável atentado de 7 de outubro passado, e renovo um premente apelo pela libertação de quantos se encontram ainda reféns. Suplico que cessem as operações militares, com o seu espaventoso rasto de vítimas civis inocentes, que se ponha remédio à desesperada situação humanitária, possibilitando a entrada das ajudas. Não se continue a alimentar violência e ódio, mas avance-se no sentido duma solução para a questão palestiniana, através dum diálogo sincero e perseverante entre as Partes, sustentado por uma forte vontade política e pelo apoio da comunidade internacional. Irmãos e irmãs, rezemos pela paz na Palestina e em Israel.
Depois o meu pensamento volta-se para a população da atribulada Síria, bem como para a do Iémen, mergulhada no sofrimento. Penso no amado povo libanês e rezo para que possa em breve encontrar estabilidade política e social.
Com os olhos fixos no Menino Jesus, imploro a paz para a Ucrânia. Renovemos a nossa proximidade espiritual e humana ao seu martirizado povo, para que, graças ao apoio de cada um de nós, possa sentir o amor concreto de Deus.
Aproxime-se o dia da paz definitiva entre a Arménia e o Azerbaijão. Seja ela favorecida através da prossecução das iniciativas humanitárias, o regresso dos deslocados às suas casas na legalidade e em segurança, e o respeito mútuo pelas tradições religiosas e locais de culto de cada comunidade.
Não esqueçamos as tensões e os conflitos que transtornam a região do Sahel, o Corno de África, o Sudão, bem como os Camarões, a República Democrática do Congo e o Sudão do Sul.
Aproxime-se o dia em que serão reforçados os laços fraternos na península coreana, abrindo percursos de diálogo e reconciliação que possam criar as condições para uma paz duradoura.
O Filho de Deus, feito humilde Menino, inspire as autoridades políticas e todas as pessoas de boa vontade do continente americano para se encontrarem soluções idóneas a fim de superar os dissídios sociais e políticos, lutar contra as formas de pobreza que ofendem a dignidade das pessoas, aplanar as desigualdades e enfrentar o doloroso fenómeno das migrações.
Reclinado no presépio, o Menino pede-nos para sermos voz de quem não tem voz: a voz dos inocentes, que morreram por falta de água e pão; voz de quantos não conseguem encontrar emprego ou que o perderam; voz de quem é constrangido a abandonar a sua terra natal à procura dum futuro melhor, arriscando a vida em viagens extenuantes e à mercê de traficantes sem escrúpulos.
Irmãos e irmãs, aproxima-se o tempo de graça e esperança do Jubileu, que vai começar dentro de um ano. Que este período de preparação seja ocasião para converter o coração; para dizer «não» à guerra e «sim» à paz; responder com alegria ao convite do Senhor que nos chama, como profetizou Isaías, «para levar a boa-nova aos pobres, para curar os desesperados, para anunciar a libertação aos exilados e a liberdade aos prisioneiros» (61, 1).
Estas palavras cumpriram-se em Jesus (cf. Lc 4, 18), hoje nascido em Belém. Acolhamo-Lo, abramos o coração a Ele, o Salvador! Abramos o coração a Ele, o Salvador, que é o Príncipe da paz!
Todos os confins da terra viram a salvação que vem de Deus na pessoa do seu Verbo que se fazendo carne veio habitar entre nós (Is 52,7-10; Sl 97; Hebr 1,1-6; Jo 1,1-18) Dom António Francisco Jaca presidiua Santa Missa de Natal na Igreja Catedral de Benguela.
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